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PRESENÇA – Santino Gomes de Matos

  • Maria Isabel Gomes de Matos
  • 17 de fev. de 2024
  • 1 min de leitura

Atualizado: 23 de abr.

Quando os passarinhos dormirem

e nunca mais acordarem, nas árvores de estalactites,

ainda virá do teu peito

o canto louro da derradeira manhã.

E será dos teus olhos,

feitos lacrimais de água viva,

que brotará a orvalhada dos vergéis,

para que a última flor escondida

se contemple em Amor Perfeito.

Nos espelhos baços

dos lagos vidrados e mortos,

ainda será a tua face

o sentido do espírito que paira.

E o anélito do teu coração

correrá mansidões nos céus convulsos,

à maneira das brisas ameigantes

que já desmaiam para sempre

no seio rasteiro das sensitivas.

A Poesia, que deserta o mundo,

terá resumos brancos e harmoniosos em ti,

terá voos com gosto de fuga e de azul,

pelo só desejo das alturas gratuitas.

Terá canções com vozes inaudíveis e incompreendidas,

com as das sereias que cantaram para Ulisses

cortiçado de surdez.

Entre os homens de utilidade metálica,

sem leveza e sem acústica

para a perdição encantada do mistério,

cumprirás com a tua Presença

a presença inevitável da Poesia.


Do livro Céu Deposto

©2023 – Todos os direitos reservados. Permitida a divulgação, desde que citada a autoria.



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