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ALBERTO DEODATO

  • Maria Isabel Gomes de Matos
  • 25 de fev. de 2024
  • 2 min de leitura

Atualizado: 10 de out. de 2024


"A ANÁLISE SINTÁTICA


Estou com um livro em mãos, escrito por um professor de português de Uberaba. Ele chama-se Santino Gomes de Matos. E o livro 'Inferno Divertido da Análise Sintática'.


Esse volume, com esse título, me fez lembrar da vida colegial. Do inferno que sempre foi para todos nós o estudo da gramática portuguesa. Estudei a língua primeiramente numa escola pública. Depois de aprener a ler, vinham as noções de gramática num colégio particular. Era culto e terrível professor, o grande Higino Belo. Fazia questão da gramática de João Ribeiro, decorada. Estudávamos em voz alta, no banco, abanando as pernas, qu e acompanhavam a leitiura cantarolada.


Aos sábados, a terrível sabatina. O semicírculo. Braços cruzados. A palmatória em cim da mesa. E vinham as perguntas. Todos, numa só voz, definiam a gramática, quase gritando:

– O conjunto das regras segundo as quais se fala e escreve corretamente a língua...

– Agora vamos analisar...

Lia o professor um trecho simples.

– Qual é o sujeito dessa oração?

Começava, então, o inferno da análise sintática. Era o iníco dos bolos. O que não sabia, estendia a mão sem o professor pedir.

– Não sei, professor...


A palmatória estalava. No Colégio Pedro II não havia bolos. Mas a severidade do professor Fausto Barreto era tradicional. A análise era de Camões. Os Lusíadas, para nós, na análise sintática, uma espécie de palavras cruzadas. Todas as orações principais dos trinta primeiros canto sestavam marcados nos nossos livros. Nenhum de nós encontrava encanto no cantar épico lusitano. Sabíamos o livro de cor. Só a maturidade, liberto da análise, foi que nos mostrou a beleza dos poemas. Não era raro o comentário entre os colegas:

– Vamos matar esse Camões?...


Eu gostava desse inferno. Divertido. Para mim, o inferno sem diversão era a Matemática. A Álgebra e a Geometria eram duas calamidades.


Encontro agora um professor que estava com os meninos de meu tempo. E diz: 'A análise sintática tem constituído uma forma de suplício infernal". Mas acresscenta que "hoje a coisa mudou. Foi-se o suplício infernal'.


E nos mostra no delicioso livro os novos rumos da análise sintática."


Alberto Deodato (Maroim, 27 de dezembro de 1896 – Belo Horizonte, 16 de agosto de 1978). Advogado, jurista, professor universitário, jornalista, escritor e político brasileiro. Foi deputado federal por Minas Gerais e um dos principais líderes da UDN. Integrante do Ministério Público, foi professor de destaque na Faculdade de Direito de Minas Gerais.






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