FRANCISCO PEREIRA ALVES
- Maria Isabel Gomes de Matos
- 20 de mar. de 2024
- 3 min de leitura
Atualizado: 11 de out. de 2024
"Prezada D. Yone.
(...)
Tudo quanto foi publicado sobre o meu queridíssimo amigo e seu amado esposo Gomes de Matos é a expressão mais legítima da realidade e se mais houvessem dito, ainda seria pouco sobre o valor do Homem que deixou nosso convívio.
O luto que cobre sua digna família se estende por toda a Uberaba, por Minas Gerias e, efetivamente, por todo o Brasil, que perde, com a sua morte, um dos mais autênticos cultores da literatura e da gramática, como poeta e insigne filólogo que era, conhecido e admirado em nossa pátria, e muito aqui nesta Capital do País. (...)
Todo o Brasil erudito participa, consternado, como seus amigos e familiares, da sua imensa amargura e do seu luto.
(...)"
Trecho de carta de Francisco Pereira Alves a Yone Passaglia Gomes de Matos
"Meu velho e querido amigo Gomes de Matos
Recebi 'Céu Deposto', livro de versos de sua autoria e que você teve a gentileza de me presentear, com a belíssima mensagem em primorosas quadras, datada de 16 do corrente mês de maio (mês consagrado à Santíssima Virgem Maria), a quem tenho a honra de rogar pela sua preciosa saúde e alegria constantes, junto de sua exma. e dd. esposa e filhos. Muito obrigado, meu querido amigo.
A imensa pobreza do meu vocabulário não me oferece chance para poder reunir palavras que pudessem traduzir, ainda que modestas e apagadamente, a dimensão do meu contentamento e do meu encantamento, diante dos seus poemas, sonetos e quadras, cada qual mais fino e brilhante, espelhando a sensibilidade apurada do mestre que sabe manejar com segurança e finura, a par de incontestável facilidade as mais doces expressões, em composições onde a alma do meu dileto poeta se extravasa no mais nédio lirismo, pondo à flor dos seus sentimentos tudo quanto de belo e de arte encerram cérebro e coração do ínclito autor de 'Céu Deposto'. E então me ocorre esta rápida análise:
Poeta mesmo é Santino,
como prova em Céu Deposto;
a obra inteira é um hino
de glória, arte e bom gosto.
Deus lhe pague, meu mestre!
O meu coração já estava necessitado de um banho de luz que o seu livro me trouxe, aproveitado com a maior avidez, inteirinho e querendo que tivesse mais e mais páginas de suaves claridades!"
Trecho de carta de Francisco Pereira Alves a Santino Gomes de Matos
"Caríssimo Mestre Santino
1
Meu caro e bom amigo Gomes de Matos
Recebi, alegre, sua carta do dia cinco
E confesso aqui, sem mais aparatos,
que nossa chácara é aquele brinco.
2
Sev ocê me er a honra de vir
Ao modesto sítio do velho Chico,
De satisfação terá de sorrir,
Ao constatar que sou um pobre-rico!
3
Pobre, por não possuir fortuna;
E rico por causa do belo laranjal
Que pode ser apontado, de tribunal,
como o mais lindo da zona rural.
4
Renovo aqui meu convite
Para comigo um dia almoçar.
E recomendo guardar o apetite
Pra todo ele no almoço gastar!
5
Aproveite agora o tempo da laranja
Doces como capitosos avos de mel
Saboreando-as, você dirá: é canja
Chupar laranja, assim, sem tropel
6
Vai hoje amostro pequeno
Dos frutos do trabalho e da natureza
Que não darão nem uma centena
E não dirão: que sovina! Tenho certeza!
Chácara das Bandeiras, Uberaba, em 15 de maio de 1971.
Gomes Amigo, meu abraço!
E pra você saber bem o quanto você é vate na verdadeira acepção do termo,
é bom ler as quadras mal conjuminadas, saídas quase de repente, do caco do Paco..."
Carta em quadras de Francisco Pereira Alves a Santino Gomes de Matos
