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DADOS BIOGRÁFICOS – Santino Gomes de Matos

  • Maria Isabel Gomes de Matos
  • 10 de jul. de 2022
  • 8 min de leitura

Atualizado: 23 de fev.


Santino Gondim Gomes de Matos nasceu na cidade de Icó, no estado do Ceará, em 1º de março de 1908. De tradicional família cearense, neto de abastado fazendeiro da região, seus pais, ambos educadores, Pedro Acioly Gomes de Matos e Maria Gondim Gomes de Matos, possuíam uma escola naquela cidade, que até 1914 tinha população maior do que Fortaleza.


Santino demonstrou sua genialidade desde criança, pois aos 4 anos de idade lia perfeitamente . Aos 6 anos, conversava fluentemente em francês com seus pais e avós. Aos 8 anos, já era responsável por pequena turma na escola de seus pais. Aos 12 anos, ingressou no Seminário do Crato. Mais tarde, deixou o seminário para completar seus estudos, seguindo sua vocação ao magistério. Nesse período, já colaborava na imprensa local, tendo seu primeiro livro publicado aos 21 anos.


Professor registrado de Latim, Português, Francês e Inglês, autorizado a lecionar inclusive no ensino superior, lecionou essas matérias inicialmente na cidade do Crato. Posteriormente, foi convidado a vir para o Estado de São Paulo, para ser professor em educandários de referência em Orlândia e Ribeirão Preto. Nesse período, já registrado comok jornalista profissional, além da atividade de magistério, também passou a atuar na imprensa local.


Transferiu-se para Uberaba em 1935, para dedicar-se ao jornalismo e ao magistério. Foi convidado inicialmente para exercer o cargo de redator-chefe da Gazeta de Uberaba. Aceitar o convite para o cargo exigiu coragem, afinal, o redator-chefe anterior havia sido assassinado por suas opiniões. Eram tempos em que as lutas políticas se travavam literalmente a ferro e fogo.


Esteve na Gazeta até 1939, quando foi convidado a ser o redator-chefe do Lavoura e Comércio, posição que ocupou até 1948. Ali, militou pela grandeza de Uberaba, nas reivindicações do que havia de mais legítimo, como, por exemplo, na inesquecível coluna "Cupim, Barbela e Gavião", que tanto cooperou no reconhecimento da vocação uberabense para o aprimoramento da raça zebuína e na sua relevância a nível internacional.


Durante longos anos, foi correspondente oficial do jornal O Estado de São Paulo em Uberaba. Devido à dificuldade de comunicação da época, os grandes jornais mantinham jornalistas correspondentes, que semanalmente lhes remetiam notícias e escreviam artigos, registrando os acontecimentos mais relevantes ocorridos nas principais cidades da região.


Ficaram famosos artigos de opinião seus e entrevistas suas com altas personalidades do mundo governamental, reproduzidas nos principais jornais de São Paulo e em revistas da Guanabara.


Mesmo depois de deixar as lides diárias do jornalismo, continuou participando ativamente no Lavoura e Comércio, escrevendo crônicas sobre temas relevantes e, semanalmente, publicando uma coluna sobre filologia e gramática, dirimindo dúvidas de consulentes e incentivando o aprimoramento da arte de escrever.


Pode-se dizer que, de 1935 a 1975, quando faleceu, não houve um só grande empreendimento em Uberaba que não contasse com sua atuante participação, com a defesa corajosa de sua pena ou com o fulgor de sua palavra.


Mas foi na área educacional que Santino Gomes de Matos mais se destacou. Jamais deixou de exercer o magistério, emprestando sua colaboração à juventude até os últimos dias de sua vida.


Atuou por muitos anos como inspetor escolar das escolas municipais de Uberaba e do Grupo Escolar Brasil, tendo sido o primeiro diretor do Colégio Dr. José Ferreira. Renomado como educador, foi membro do corpo docente dos principais estabelecimentos de ensino da cidade, como o Colégio do Triângulo Mineiro e o Colégio Diocesano, e como professor concursado da Escola Normal Oficial de Uberaba. Posteriormente, deixou o magistério em colégios, continuado apenas com as aulas na Faculdade e com seus cursos particulares, ministrados em sala de aula anexada à sua residência.


Santino foi peça fundamental na fundação da Faculdade de Filosofia, Ciências e Letras Santo Tomás de Aquino, das irmãs dominicanas. Naquele tempo, um empreendimento de tal monta era extremamente complexo, pois havia rigorosas exigências, entre as quais a de que se cumprisse um currículo altamente especializado. Para tanto, muito contribuiu o professor Santino, não apenas com sua formação, sua prática de ensino, mas também com a sua famosa biblioteca particular de mais de 10 mil volumes.


Santino correspondia-se com as principais livrarias da Europa e da América, adquirindo o que havia de mais atual em termos de linguística e ciências da linguagem. Lançadas as obras, logo estavam na sua biblioteca, sob sua análise e estudo minucioso. Os livros vinham na língua original, uma vez que dominava, além do francês e do inglês, o espanhol, o italiano e o alemão, por isso ele estava sempre à frente do seu tempo, no conhecimento de tudo o que havia de mais moderno e de vanguarda. Assim sendo, contribuiu fundamentalmente para que se estabelecesse o curso de Letras, de tal forma que nada deixava a desejar em relação aos melhores cursos ministrados nas universidades de referência do Brasil.


No ensino de Filologia Românica e de Língua Portuguesa, na Faculdade, orientou gerações de alunos, numa vertente moderna de ensino, de gramática aplicada, de técnicas de redação, algo extremamente inovador para aqueles tempos. Nessa seara é que surgiu o famoso livro O Inferno Divertido da Análise Sintática, em que mostrava, de forma pioneira, a importância da modernização do ensino de norma-padrão para o ensino fundamental e médio.


Era autoridade indiscutível em assuntos gramaticais e de filologia, sendo consultado, vezes sem conta, por literatos, professores e jornalistas não só de Uberaba, mas de outras localidades. A sua palavra era decisiva, pois refletia uma cultura de estudos e pesquisas metódicas. Comprova isso a extensa correspondência que manteve, ao longo dos anos, com os mais renomados linguistas e gramáticos do País.


Era sempre o professor escolhido para ministrar aulas de Língua Portuguesa do Curso da Cades, curso criado pelo governo federal, a partir de decreto de 1953, com o objetivo a atualização e o aperfeiçoamento de professores.


Para os alunos, tornou-se inesquecível tendo em vista sua uma didática criativa e original, tornando fácil o que parecia inacessível, além do seu exemplo de vida, sua postura, sua orientação aos estudantes na busca do conhecimento e do autoconhecimento.


Assim também testemunham as cartas de agradecimentos de centenas de alunos, gratos pelos ensinamentos e também pelas orientações que nortearam suas vidas. Com efeito, Professor Santino não foi apenas um professor, mas um mestre na melhor acepção da palavra, pois não apenas ensinava, mas educava. Educava levando seus alunos a pensar, a abrir a mente para as fontes do conhecimento, a buscar seu propósito de vida. Educava também pelo exemplo. Exemplo pela sua vida honrada, sempre coerente, de coragem e desassombro na defesa dos seus ideais e dos valores maiores que professava e exercia.


Ensinava e educava com ainda maior eficiência porque nos encontros com seus alunos – muitos dos quais se tornaram seus verdadeiros discípulos – em clima de leveza e alegria, demonstrava que estudar, embora exija esforço, pode ser um professo agradável; que ser correto e seguir valores nobres, embora exija determinação, resulta em felicidade duradoura.


Quanto à sua obra literária, sobre a beleza dos seus versos e sua sensibilidade poética, manifestaram-se grandes vultos da literatura nacional, como Monteiro Lobato, Afrânio Peixoto, Filinto de Almeida, entre tantos outros.


Na análise abalizada de escritores, "Santino foi um poeta que soube idealizar a linguagem da emoção, em belos versos livres e sonetos românticos, mas que, com o coração aberto à solidariedade humana, também compreendeu como poucos o drama dos desvalidos e a alma dos humildes".


Publicou três livros de poesia: Oração dos Humildes, Procissão de Encontros e Céu Deposto, deixando outros livros inéditos.


Quando da publicação de Oração dos Humildes, em 1940, data em que completava 32 anos, o Lavoura e Comércio fez publicar um artigo dizendo tratar-se de "obra prima em duas áreas, prosa e poesia".


Como contista, além do livro Flagrantes ao Sol do Norte, teve contos premiados em concursos diversos promovidos Brasil afora.


Dedicou-se com empenho à literatura, tendo sido um dos primeiros convidados a participar da fundação da Academia de Letras do Triângulo Mineiro, ocupando a cadeira nº 2. O conjunto de sua obra levou-o também para a Academia Municipalista de Letras de Belo Horizonte.


Além de suas atividades como homem de letras, jornalista e professor, Santino era funcionário público do IBGE, tendo sido Chefe da Agência Modelo de Estatística, cargo no qual se aposentou.


Por questões políticas, houve um momento em que o IBGE desejava sua saída de Uberaba. Para tanto, tendo em vista ser funcionário exemplar, propuseram sua promoção, na condição de que se mudasse de Uberaba. A única forma de evitar a transferência, apesar da indicação de rendimentos muito maiores, foi candidatar-se à Câmara Municipal de Uberaba. O amor por Uberaba falou mais alto do que a questão financeira. Seu prestígio junto à comunidade levou-o a ser eleito como o vereador mais votado do pleito de 1962.


É interessante destacar que, naquele tempo, os vereadores das cidades de menos de 500 mil habitantes não eram remunerados por sua função. As atividades da Câmara Municipal aconteciam, por isso, à noite, uma vez que nenhum dos vereadores podia desligar-se de suas atividades produtivas para exercer a função. Para o cargo se candidatavam, portanto, cidadãos voltados ao bem comum, que se empenhavam, sem retorno financeiro, em prol da comunidade.


Para apresentar traços da personalidade de Santino Gomes de Matos, transcrevemos alguns depoimentos, trechos de artigos publicados nos jornais de Uberaba, quando de seu falecimento.


"Faleceu Santino Gomes de Matos – Homem de extraordinária firmeza de princípios, formado no seio de uma austera e tradicional família cearense, Gomes de Matos fez da sua existência uma seriação ininterrupta de dedicação à cultura, ao magistério, ao trabalho e à família. E viveu mais em função dos seus do que de si mesmo. Vivo, construiu pela palavra. Morto, continua a construir pelo exemplo que legou a Uberaba."


"Afetividade, delicadeza de sentimentos, características que formavam uma constante na vida de Santino Gomes de Matos e que o prenderam para sempre a Uberaba por laços afetivos que ele jamais quis romper. Poderia ter triunfado em qualquer capital, mas preferiu continuar na cidade interiorana que tanto amou. O seu desaparecimento é apenas físico. A sua imagem ficará perpetuada para sempre na lembrança dos que com ele conviveram e na consciência cultural de Uberaba."


"Gomes de Matos, um nome que Uberaba guarda na sua admiração e respeito – As dezenas de anos que Santino Gomes de Matos residiu em Uberaba significam longos anos de prestação de serviço à gente desta terra, no magistério, na imprensa e na literatura. E essa contribuição esplêndida não pode e não será esquecida.(...)"


"Santino Gomes de Matos é o nome de um homem que a modéstia, sua imensa modéstia, não conseguia esconder, pela ação que desenvolvia, uma das expressões mais altas de valor humano que já tivemos em nossa terra natal. Filólogo eminente, um dos mais profundos conhecedores da Língua Portuguesa no Brasil, professor, escritor e jornalista, marcou posição destacada no plano de suas múltiplas atividades.(...)"


"Santino Gomes de Matos – um nome guardado pela consciência cultural de Uberaba. (...) Falamos do intelectual de primeira linha. Muito se poderia dizer também do cavalheiro de impecável correção moral, que soube fazer da sua vida de educador a mais eloquente e persuasiva lição: a lição do exemplo, da dignidade, da harmonia interior, da indeclinável coerência. "


Santino Gomes de Matos era casado com Yone Passaglia Gomes de Matos. Configuraram um modelo como casal e como cidadãos, tendo construído uma vida de exemplar que reverberou luminosamente naqueles que tiveram o privilégio de com eles conviver. Suas obras literárias demonstram esse sublime amor e refletem seus nobres ideais.


Santino Gomes de Matos faleceu em Uberaba, em 14 de outubro de 1975, aos 67 anos de idade.



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