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DISCURSO: SAUDAÇÃO A ANTÔNIO DE QUEIROZ FILHO – SANTINO GOMES DE MATOS

  • Maria Isabel Gomes de Matos
  • 17 de mar. de 2024
  • 5 min de leitura

Atualizado: 14 de abr. de 2024


Exmo. Sr. D. Alexandre Goçalves do Amaral

Exmo. Sr. Dr. Antônio de Queiroz Filho

Dignas autoridades eclesiásticas, civis e militares

Exmo. Sr. Paulo Derenusson, digno presidente da Confederação das Famílias Cristãs de Uberaba e demais membros da diretoria desta agremiação

Exmas. Senhoras,

Meus senhores.


Há que ver nesta saudação uma nota diferente dos costumados acentos da pragmática, em ocasiões que tais.


Cabendo-me a honra de apresentar a Uberaba o Sr. Dr. Antônio de Queiroz Filho, cujo nome tão alto se inscreve na pauta de valores da intelectualidade brasileira, quero refugir à atitude de um louvor superficial ou gratuito. Ainda que revestidas as minhas palavras de um aspecto de justiça indeclinável, no elogia ao nosso ilustre visitante, que tem por si o merecimento real de um penetrante ensaísta, de um jurisperito notável, de um professor que abre a sua cátedra em jorros de verdadeira sabedoria, da grandeza de sua personalidade literária e cultura inigualável.


Mas sim, meus Senhores, acima do preclaro homem de letras, acima do cultor de direito, acima do alto representante da inteligência e do pensamento braisleiro, desejo saudar em Antônio de Queiroz Filho o campeão da Verdade, o espírito superior, que perlustra as avenidas de luz exatas e esplêndidas, que começam em Deus e em Deus terminam.


Estamos aqui reunidos para ouvir a palavra de um conferencista que, em vez de um punhado de flores, entretecidas nas guirlandas de um esteticismo literário gratuito, nos oferecerá uma panóplia de armas que esgrimir, valentemente, denotadamente, na arena do pensamento e da ação, pela Verdade e pelo Bem.


E é de pôr em relevância a nossa atitude de simpatia e admiração ante a grandeza do ideal com que aqui vem, na irradiação de fecundo apostolado.


Pertence Antônio de Queiroz Filho a uma plêiade de espíritos de eleição, que depois de mergulharem no jordão miraculoso da Verdade católica, procuram difundir no meio da sociedade brasilelra os privilégios do mesmo banho lustral, tão necessários à alma da nossa pátria, em momento de grave desprezo dos valores transcendentais do ser humano.


Os tempos certametne são outros, no plano do contingente, do efêmero, que se marca pelo traço de um destino na terra, entre os polos de mistério do nascimento e da morte. mas a parte nobre do homem, feito à imagemm e semelhança de Deus, há de representar sempre, na Idade Média ou na era atômica, o mesmo dado metafísico que o selo do eterno configura nos problemas superiores da vida sobrenatural.


O mal dos males, na época presente, é que o homem procura realizar-se apenas em super´ficie. Avança em sentido horizontal, na procura destainada dos bens materiais, seja a que preço for, e sufoca no íntimo de si mesmo as vozes da consciência que lhe bradam contra o triunfo nefando e inconcebível da besta sobre o anjo.


O resultado desses desajustamento das duas naturezas do nosso ser, que devem associar-se e completar-se para a realização plena do destino do homem, na pátria terrena e na pátria celestial; o resultado das conquistas hipertróficas do Tempo, em detrimento do patrimônio do Eterno, é o que vemos refletido por toda a parte, em desassossegos, em inquietações, em lutas intestinas e em guerras universais, que nos fazem a todos prisioneiros do medo, nas visões augurais de um futuro que tornam cava vez mais longínqua e perdida a imagem da procurada felicidade na terra.


Situemos o problema mais perto de nós.


Não é de hoje que se diz que a tremenda crise que empolga o Brasil é antes d etudo e sobre tudo, uma crise de caráter. Campeia a desonestidade, despejadamente, na esfera oficial e na esfera particular, multiplicando-se os casos de peculatos, de malversações dos dinheiros públicos, de desfalques em bancos e empresas comerciais. Por outro lado, impera o câmbio negro, projetando a sua sombra sinistra na fome e no desespero dos lares pobres. E na corrida de obstáculos que vemos loucamente apostada, para a obtenção de lucros cada vez maiores, para o acumulamento de riquezas cada vez mais consideráveis, deixam-se esmagados pelo caminho os velhos sentimentos de humanitarismo, as antigas virtudes da probidade e da boa fé no trato dos negócios – virtudes que já ninguém compreende, que passam ao arquivo e dos anacronismos irrisórios, num julgamento perigosamente aceito, de maneira geral.


O eufemismo cínico – arranjar a vida – mascara e coonesta as garras atrevidas da ladroagem, que se considera habilidade, inteligência, saber onde as andorinhas dormem. Só os incapazes ou os tolos não se atiram ao panamá das negociatas, ao saque dos dinheiros públicos, que o manto da impunidade acoberta, para desgraçado exemplo aos olhos das novas gerações brasileiras. Não ser rico é a incapacidade das incapacidades.


Segredava-me, não há muito tempo, a triste filosofia de um amigo, que a pobreza é a pior de todos os defeitos que possam macular a vida de um cidadão. Mal sabia ele que em tão poucas palavras definia a calvície moral de nossa época, idólatra de Mamon, em que se verifica uma trágica inversão de valores, com a superposição do material ao espiritual, e consequente ruptura das leis de equilíbrio nas relações dos indivíduos entre si e dos povos uns com os outros. Tudo o mais de vícios e crimes e descalabros morais inconcebíveis, no plano inclinado de misérias em que resvala o mundo e, particularmente o Brasil, decorrer desta espantosa filosofia do imediatismo, na ânsia de que tudo se reduza a dinheiro, para a libação de todos os prazeres da vida.


Aonde iremos ter, em tal andamento das cousas? Que futuro aguarda o nosso querido e infeliz Brasil, se continua a falhar, lamentavelmente, no destino da civilização cristã, que anda a desfigurar de forma violenta, atraiçoando os marcos iniciais da sua caminhada histórica, com Frei Henrique de Coimbra a agasalhá-lo à sombra da cruz de Cristo, na primeira missa do descobrimento, e mais tarde, com Nóbrega e Anchieta a lhe ensinarem as lições do catecismo, que desaprende e esquece? Que será do Brasil? Estará totalmente, irremediavelmente perdido, como afirmou , há quatro dias, em entrevista concedida à imprensa do Rio, um dos membros da mais alta corte da justiça em nosso país? Não, mil vezes não!


O Brasil somos nós, são os nossos filhos, com a nossa fé em Deus, com os nossos destinos naturais e sobrenaturais, com a nossa humanidade redimida pelo sangue generoso de Jesus Crucificado. ainda que por vezes o sepultem nas expressões de desenganado pessimismo, o Brasil não morre nem morrerá nunca, enquanto houver acesa numa alma, num coração, a chama de ideal das reivindicações corajosas pela Verdade e pelo Bem.


E que fazemos aqui congregados neste momento? Que faz a família cristã de Uberaba unida sob este teto? Acode ao chamamento de sua consciência mais profunda, para um movimento de reação, cujos brados primeiros se ouviram em São Paulo e já se propagam em clangor, por toda a imensidade da terra do cruzeiro.


Uberaba aqui está para dizer ao ilustre conferencista desta noite, Exmo. Sr. Dr. Antônio de Queiroz Filho, que é a sua auspiciosa presença entre nós, da Confederação das Famílias Cristãs de São Paulo; aqui está para dizer-lhe que o terreno espiritual da Capital do Triângjulo se acha suficientemente preparada a fim de receber as sementes de luz de sua palavra, iluminadas das verdades da fé e do patriotismo, cheias da confiada esperança de um Brasil são e salvo de todos os achaques morais, por obra e graça da família reavivada no sentido da sua formação cristã. Mais que isto, da família transformada numa força de ação catalítica, no meiio social, para impor os seus direitos, para dizer altos e bradados prpotestos contra o abastardamento da consciências cívica, contra os processos indecorosos da politicalha, contra o esmagamento das classes humildes pela opressão do ouro, contra as perigosas veleidades de um reiinado supremo do proletariado, contra a imoralidade de costumes que por aí campeia, sob os mais variados e revoltantes aspectos.


Exmo. Sr. Dr. Antônio de Queiroz Filho, estas são as disposições de espírito com que neste instante vos saudamos, agradecendo o alto privilégio de vos ouvir pessoalmente.




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