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DISCURSO DE ORADOR DA TURMA – CLEÔMENES GOMES DE MATOS

  • Maria Isabel Gomes de Matos
  • 3 de mai. de 2024
  • 5 min de leitura

Atualizado: 30 de mai. de 2024


Mais uma vez abre o Metrópole as suas portas para a entrega de certificados aos alunos que terminam o curso no Colégio Triângulo.


A cerimônia que or apresenciam é a mesma que, ano após ano, se vem repetindo nesta Casa. Entretanto, tal repetição não significa monotonia, não implica desvalor, não sofre desgaste. É como a floração da primavera, que se repete periodicamente ou como o rito anual da colheita dos frutos sazonados pelo outono. Ano após ano o mesmo festival de cores, a mesma gama de alegrias.


Aqui são as gerações de jovens que se sucedem, trazendo a alma em festa na certeza de uma etapa vencida, no júbilo do galardão conquistado.


Acabamos de receber um diploma que, par nós, representa muito mais que um simples certificado de conclusão de curso. Representa a conquista de um triunfo que há de ser o ponto de partida de muitos outros.


De justiça, reconhecemos que este triunfo não é fruto exclusivo do esforço pessoal. É o coroamento de um conjunto de esforços: o estímulo dos pais, as lições dos professores, a orientação do colégio.


Nesta trilogia – lar, mestres, escola – que tem sido o nosso sustentáculo, se alicerça a presente vitória. E a sua importância cresce e se avulta quando olhamos para trás e nos damos conta do caminho percorrido.


Revemo-nos desde lá de longe, ao ingressar n o Colégio, garotos ainda, mal terminado o curso primário. Deixávamos s a convivência feita de meiguice quase maternal das professoras do grupo escolar para defrontar o corpo de professor especializados e matérias inteiramente estranhas ao nosso conhecimento Naquele momento, o sentimento de que era a própria infância que deixávamos no pretérito, para iniciar etapa mais elevada da nossa existência, infundia-nos novo senso de responsabilidade, que nos pesava sobre os ombros, sem que soubéssemos avaliar suas dimensões. À timidez, juntava-se o temor. Em breve, porém, aclaravam-se os horizontes. Adaptados ao colégio, seguimos em frente, estudando e criando laços de amizades.


À frente do nosso notável educandário, fomos encontrar a figura ímpar do educador que é Mário Palmério. Esse mesmo Mário Palmério que transformou Uberaba em cidade universitária, centro educacional dos mais importantes do país.


O Colégio do Triângulo Mineiro foi o ponto de partida para o grande empreendimento. E as normas que o seu fundador lhe ditou pautavam-se no respeito à personalidade do aluno. Energia sem excessos de rigorismo, disciplina nascida da compreensão, instrução ministrada por professores competentes.


Na direção do Colégio, D. Olga de Oliveira, educadora emérita, de raros predicados intelectuais e morais, fez de sua vida um exemplo de dedicação a serviço da formação da juventude.


Uma breve palavra de homenagem ao patrono desta solenidade, Professor Santino Gomes de Matos. Não uma palavra de filho, neste momento, mas o reconhecimento dos estudantes, meus colegas, que o escolheram por patrono por considerá-lo exemplo como mestre, como jornalista, como poeta, como cidadão, um ícone da intelectualidade uberabense.


Quanto a todos os nossos professores, melhor definição não encontramos para eles do que aquela que nos legou a Grécia antiga, de heróis e de sábios, onde os professores eram considerados "formadores de almas". Realmente, assim tem sido eles: formadores de almas. Não se limitam a ministrar com eficiência as matérias do currículo escolar. Vão mais longe, buscando auscultar os anseios dos jovens discípulos, adivinhar-lhes qualidades latentes para fazerem-nas florescer, desenvolvendo-lhes aptidões inatas, corrigindo defeitos, suprimindo deficiências.


Nesta idade que ora atravessamos, quando a imaginação mais do que a razão fala aos nossos ímpetos, quando os entusiasmos se acendem com a menor fagulha, quando o bem ou o mal é pesado na balança dos nossos anseios, eles têm sido a mão segura a amparar a vontade vacilante, a palavra serena a restabelecer o equilíbrio, o luzeiro a aclarar dúvidas.


Por tudo isto, aos nossos professores, na pessoa do Professor Raimundo de Albuquerque, ilustre paraninfo da turma, que reúne as qualidades intrínsecas de educador e mestre, rendemos o preito da mais viva gratidão. E pretendemos fazê-lo não apenas com palavras, que são elas incapazes de traduzir o estado emocional de nossas almas, mas com a decisão inabalável de buscar o aperfeiçoamento que os seus ensinamentos nos ditaram.


E que melhor ensinamento, professor Raimundo de Albuquerque, do que o da vossa própria vida, marcada a golpes de esforço e de constância, através de trabalhos e lutas sem conta, até o plano de triunfos em que vos situais como luzeiro do magistério e da intelectualidade de Uberaba.


O exemplo do que pudestes conseguir, transformando em forças de edificação, as condições negativas da vossa meninice pobre, e da vossa juventude sem amparo a não ser na impenitência da coragem e perseverança, com que realizastes o vosso próprio destino, é um desses quadros humanos que movem à admiração e respeito.


Seja este o preito maior que aqui vos rendem os afilhados deste momento, mas, certamente, os discípulos de sempre, fiéis aos ensinamentos da vossa cátedra e ao paradigma da vossa vida, realizada no heroísmo do trabalho sem quartel e da fé sem eclipses.


Aos nossos pais, o diploma que ora lhes entregamos falará por nós. Dir-lhes-á que os seus sacrifícios não foram vãos, as suas esperanças não se malograram.


Por certo não somos os filhos perfeitos que desejariam. Muitos trabalhos lhes demos, muitas mágoas lhes causamos. mas o perdão, sabíamos bem, já o tínhamos por antecipação. Porque o amor dos pais, sabemos, é fonte de origem divina que não se esgota nunca, nem se seca ao sopro de vendavais ou aos ardores do sol equatorial.


Nesta fonte inesgotável sempre iremos buscar forças para a nossa fraqueza, consolo para as provações que a vida reserva a todos os homens, inspiração para o cumprimento do dever.


Colegas! No momento em que damos tão importante passo para a frente, não nos quedemos a interrogar pasmados o que será daqui por diante. Coloquemo-nos diante da realidade da hora presente, situados no nosso devido lugar. Estudantes somos, estudantes continuemos!


A mocidade, como dizia Joaquim Nabuco, é a surpresa da vida. Não queiramos tirar o encanto dessa surpresa, colorindo de negras tintas o porvir, querendo arcar com responsabilidades que não são ainda de nossa alçada. É verdade que não podemos ignorar a hora difícil, talvez decisiva para a humanidade, que o mundo atravessa; o choque de ideologias que ameaçam destruir os alicerces da civilização; os planos da organização político-social do Brasil; os problemas do subdesenvolviemnto e do desequilíbrio orçamentário que arrastam o país às portas do descrédito. E porque o sabemos, mais nos devemos firmar na nossa posição de estudantes.


Havemos de servir à pátria, pelo amor ao trabalho e aos estudos, pelo aprimoramento espiritual, pelo amor a Deus e à família, pelo cumprimento do dever. Não queiramos fazer parte do grupo infeliz de jovens para quem as virtudes são velharias que transformam a liberdade em licença, que querem triunfar pela mentira e pelo cabotinismo. Se preciso, sejamos a exceção. Busquemos a vitória pelo trabalho contínuo, pondo bem alto os nossos idelais.


Só assim realizaremos as esperanças de nossos pais e de nossos mestres, para grandeza e orgulho da pátria estremecida a quem renovamos nesta oportunidade a nossa profissão de fé juvenil aos seus altos e indesviáveis destinos.




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