DISCURSO – TÍTULO DE CIDADÃO UBERABENSE AO MINISTRO JARBAS PASSARINHO – SANTINO GOMES DE MATOS
- Maria Isabel Gomes de Matos
- 3 de fev. de 2024
- 4 min de leitura
Atualizado: 21 de out. de 2024
No concerto das homenagens que V. Exa. neste instante recebe, Sr. Ministro da Educação Jarbas Passarinho, a palavra da Congregação das Irmãs Dominicanas pleiteia um acento particular de efusão sincera.
Sabemos que não somente Uberaba, que hoje elege V. Exa. como um dos seus cidadãos honorários mais ilustres, mas o Brasil inteiro, através das manifestações vivas da inteligência e da cultura, em qualquer parte em que se considerem os problemas maiores ou menores da instrução e educação do povo, destaca a figura do Ministro Jarbas Passarinho com tal expressividade que nenhum outro titular da mesma pasta teve.
Afinal, coube a V. Exa., Sr. Ministro, com a coragem cívica e o poder de decisão que lhe são o apanágio da vida pública, assumir a enorme responsabilidade da reforma de ensino que nos convém na hora presente. E se outras reformas houve no passado, bem diferentes foram as circunstâncias que as envolveram, num clima relativamente tranquilo de simples mudanças de normas.
Muito outra a situação do Brasil de hoje, que a si mesmo se discute, para a consciência de melhores rumos, em todos os setores das suas atividades, quanto mais naquele em que se afirmam princípios e direitos da inteligência e da cultura, nos planos superiores do espírito.
Que se havia de esperar senão a efervescência, senão o embate vivo das opiniões, não raro contraditórias, senão as críticas construtivas e também as destrutivas, estas de acordo com a natural contingência humana dos eternos semeadores de pedras nos caminhos abertos pelos devotos de qualquer ideal, para que se cumpra o áspero vaticínio do poeta, num refrão melancolicamente realista – "tinha uma pedra no meio do caminho, no meio do caminho tinha uma pedra." E quantas delas deveu V.Exa. remover, a fim de que atingíssemos o estágio de conquistas que vai do Mobral à Escola Superior, numa arrancada febricitante que marca aos brasileiros uma mentalidade nova de anseios pelo aprimoramento do saber!
Numa das deliciosas crônicas de Carlos Drummond de Andrade, lia eu, num jornal de há dois dias, que já não se usa a profissão de herói. Nem havia V. Exa. de perdoar a este modesto orador, que fosse eu de hipérbole acima a querer medalhar em carisma a personalidade de um homem público que sempre fez questão de ser povo no meio do próprio povo.
Desse heroísmo, entretanto, que não decorre do artificialismo de um elogia pragmático, mas ressalta da realidade mesma dos fatos, hei de dizer e proclamar com um reconhecimento pleno de justiça.
V.Exa., em nenhum momento – e muitas vezes o tenho visto e ouvido na televisão e lido em entrevistas de revistas e jornais – nunca se furtou ao diálogo franco e aberto, comparecendo até mesmo em áreas perigosamente tumultuadas, pela distorção das reivindicações estudantis, em termos de protestos e de intransigências exasperadas. E, sem que houvesse o menor arranhão na autoridade do Ministro, mantidos e preservados, inflexivelmente, os princípios de uma filosofia de governo que jamais consentiria em concessões humilhantes nem em transigências menos dignas, o que temos visto é a prevalência do bom senso, na conciliação dos interesses em choque, graças a um entendimento democrático, com audiência de todos os inconfidentes.
É desse heroísmo, Sr. Ministro, de quem consegue a vivência da planície, sem contudo perder, no mínimo dos mínimos, a majestade da altura, que V. Exa. se credencia dentro do mais claro sentido patriótico.
Nos meus quarenta anos de magistério, ainda que na relatividade dos acontecimentos que caracteriza cada época, posso apresentar um testemunho de sinceridade inconcussa. Em vez daquele tempo lírico de pseudo-ufanismo, em que a mocidade se contentava com o rótulo de esperança da Pátria; em vez da preocupação dominante de um bacharelismo simpático, mas acomodado nas poltronas dos gabinetes, para o privilégio dos lucros pingues, num menor esforço de trabalho e de luta; em vez de devaneio de um futuro fatalmente promissor, que permitia a atitude budística dos braços cruzados, na certeza do maná do céu; hoje vemos como a juventude descobriu o Brasil em si própria, como se ativa na consciência de ser e de realizar, procurando engrandecer-se como parcela de um todo que se agiganta.
Senhor Ministro,
Requeria eu, de início, que se destacasse nesta cerimônia a palavra da Congregação das Irmãs Dominicanas, e mais em particular da Faculdade de Filosofia, Ciências e Letras Santo Tomás de Aquino, a primeira escola de estudos superiores a se fundar nesta cidade.
Não constitui, sem dúvida, pecado de vitupério, por louvor em boca própria, o encarecimento desta verdade histórica. Como um coroamento às atividades do ginásio, do colégio, da escola normal, um instituto de formação de professores secundários, o terceiro a se fundar em Minas, com luminosa projeção da Capital do Triângulo Mineiro nos altiplanos educacionais.
Há que citar também o Colégio Nossa Senhora das Dores, com mais de setenta anos de existência, que vem dos primórdios humildes da cidade, acompanhando-a na escalado de progresso até a pequena metrópole de nossos dias, e impondo-se como um dos mais notáveis estabelecimentos de ensino do interior do Brasil, magnificamente incorporado ao nosso patrimônio de grandezas.
É com essas credenciais, Sr. Ministro Jarbas Passarinho, de quem há dezenas de anos trabalha na mesma seara em que V. Exa. alcançou subida benemerência, que a Congregação das Irmãs Dominicanas participa do preito de gratidão, certo e exato, que V. Exa. neste momento recebe de toda Uberaba.
Congratulamo-nos com a egrégia Câmara de Vereadores, com o esclarecido Sr. Prefeito Municipal, como todos, enfim, que souberam interpretar os sentimentos do povo uberabense, consubstanciando-os num diploma de cidadania oferecido a uma figura de tal porte cívico e de tão alto valor cultural e moral, que já agora acrescentamos aos nossos foros de distinção relevantíssima, contar V. Exa. no número dos nossos mais conspícuos concidadãos.
Discurso publicado no "Lavoura e Comércio"
