DISCURSO: TRIBUTO A JOSÉ MENDONÇA – SANTINO GOMES DE MATOS
- Maria Isabel Gomes de Matos
- 17 de mar. de 2024
- 3 min de leitura
Atualizado: 14 de abr. de 2024
Discurso de Santino Gomes de Matos, em nome da Academia de Letras do Triângulo Mineiro, quando do falecimento de José Mendonça.
Querido amigo, José Mendonça.
Ao falar, neste instante, por delegação dos meus confrades da Academia de Letras do Triângulo Mineiro, numa incumbência tanto mais honrosa, quanto dolorosamente difícil, na circunstância deste desolamento, assalta-me o temor da palavra, já de si mesma cheia de limitações e, sem dúvida, impotente para configurar toda a nossa mágoa imensa.
Sim, querido Presidente José Mendonça, diante do golpe profundo de tua morte, a sensação que vai em nossas fileiras, aflitas e desorientadas, é a de um verdadeiro desabamento. Sem nenhum exagero, sem a menor força de expressão, que desvirtue a verdade inilidível.
A Academia de Letras do Triângulo Mineiro, desde que ensaiou passos decisivos para ser e afirmar-se, confiou o seu destino ao prestígio do teu nome. Não eras um dos fundadores, mas o fundador por excelência, aquele em torno de quem se aglutinavam os devotos da tua inteligência, da tua cultura, e também dessa bondade incomensurável, que abrangia no mesmo amplexo fraterno as divergências, as incompatibilidades dos mais diversos espíritos e temperamentos.
Tivemos, assim, o presidente da Academia eleito por aclamação, porque nenhum outro reunia qualidades capazes de somar forças heterogêneas ou divergentes, no estabelecimento da vida da novel instituição. Tudo partia de ti, e em torno de ti gravitava, e serias, certamente, enquanto vivesses, o nosso grande e amado presidente.
Repito que a palavra empalidece e capitula na expressão da tua perda irreparável. Porque com certeza fizestes da Academia de Letras do Triângulo Mineiro o coroamento de todo um bandeirismo de inteligência e de cultura, em ilimitada doação.
Na advocacia, abriste, a poder de esforço e de talento, todas as resistências aos caminhos da vitória total. E também te tornaste Mestre do Direito, iluminando de saber a tua cátedra, e ainda publicando obras de jurisprudência de mérito incomum.
No jornalismo, dentro das numerosas facetas de um espírito de eleição, nas colunas de "Lavoura e Comércio", por tantos anos, impuseste a nomeada do articulista de estilo atraentemente simples, sem embargo da profundeza dos conceitos, nem do vigor das acometidas, quando necessário, com a paixão do direito e da verdade.
No magistério, que eu quase diria a tua vocação maior, pela oportunidade de um humanismo largamente derramado, obtiveste a consagração dos incontestados, no culto da juventude universitária.
E o tribuno, fosse nas atividades do foro, fosse nas assembleias políticas e literárias, manda a Justiça que se proclame, marcou época na história da eloquência patrícia.
Que mais dizer nesta pálida enumeração, a voo de pássaro, das atividades de uma personalidade intelectual e cultural que bem representa as virtudes maiores da nossa civilização do espírito e da inteligência?
Dizer, sim, que José Mendonça fez da Academia de Letras do Triângulo Mineiro o coroamento de todo um vasto e luminoso esforço de conquistas em prol do aperfeiçoamento do saber e da cultura desta região.
Eram de ver os olhos proféticos que avançavas nas miradas do futuro. Os valores intelectuais, sem exceção, desta faixa de território mineiro, congregados em nosso sodalício, a fim de que cada um tivesse o reconhecimento do próprio mérito, e todos formassem no luzeiro da Academia, a atrair e a guiar as gerações jovens.
Os jovens, os jovens, a tua preocupação maior, meu querido amigo, para os estímulos da vida espiritual e moral de que tanto necessitam num mundo cada vez mais agitado da brutalidade instintiva a da violência,
Seja esta, à beira da tua sepultura, a inspiração última que recolhamos de um grande, de um prodigioso exemplo de compreensão e de cordura humana.
Que a tua bandeira, embora momentaneamente caída do mastro, num desconsolo de derrota, saibamos reerguê-la, na continuidade dos teus passos de conquistas irrecusáveis. A conquista da bondade, da compreensão, com os valores do espírito e da inteligência presidindo a dinâmica das reivindicações sociais imprescindíveis, mas sem que nos afronte o espetáculo bárbaro dos riscos de fogo das balas assassinas.
Meu querido presidente, no egoísmo do nosso indizível pesar, da nossa amargura sem termo, a Academia de Letras do Triângulo Mineiro quase esqueceu de dizer-te que choramos o nosso pranto dentro do pranto geral da cidade.
É toda Uberaba, que querias com amor de encantamento, é toda Uberaba que tanto engrandeceste, que fizeste crescer nos cimos de tua figura exponencial de saber e de humanidade cristã, é toda Uberaba que se inclina sobre o teu túmulo para rezar:
dorme no seio da terra da tua devoção o sono do sábio, do bom e do justo!
