DISCURSO EM REUNIÃO VICENTINA – SANTINO GOMES DE MATOS
- Maria Isabel Gomes de Matos
- 19 de mar. de 2024
- 2 min de leitura
A chaga da mendicância, no Brasil, já se incorporou definitivamente aos aspectos negativos da nossa vida social. Assim, nas grandes como nas pequenas cidades, nas metrópoles deslumbrantes ou nos burgos mais perdidos e apagados, encontramos sempre mãos estendidas, com a gemeção pungente de uma esmola pelo amor de Deus.
Não lancermos essa miséria das misérias tão somente à conta do pauperismo nacional. Somos, na verdade, um povo de padrão de vida baixo, se verificarmos na distribuição "per capita" do nosso patrimônio de riquezas particulares. O valor atual monetário de cada brasileiro, tomando-se por base 52 milhões de habitantes, para essa original divisão, talvez não alcance a importância de cem cruzeiros. Isso acontece por motivos vários e numerosos, entre os quais avulta o da falta de ambição, no bom sentido do termo, da carência de estímulos no caminho da prosperidade individual.
Sem conhecer as primeiras letras, no pavoroso índice de 65% de analfabetos, segundo o último recenseamento, vive o simples homem do povo da mão para a boca, no mais crasso conformismo. Trabalha para o feijão e a mandioca de cada dia, para os metros de riscado da procissão do Senhor, no fim do ano. É quanto basta, numa limitação absurda de aspirações, para si e sua família.
Culpá-lo por isso seria, no entanto, infinita crueldade., A herança de submissão que recebeu dos seus maiores se conserva, no mesmo plano de vida, a ser transmitida a novas gerações de iletrados, na labuta de sol a sol, como forçados de um destino irresgatável na vida do campo.
Por seu lado, o governo, em suas ações sociais, não idealiza ensina a pescar, mas dar o mínimo peixe, a gerar a submissão ao Estado, na perpetuação do estado de miséria. Assim o homem da zona rural entrouxa uns molambos e uns cacarecos, todo o seu patrimônio de anos de trabalho, e toca para a cidade, em companhia da mulher e da récua de filhos, para aumentar o número dos favelados, debaixo de uma telha de zinco qualquer. Dias depois as ruas ganham novos mendigos, de começo envergonhados, cheios de dedos, para porém logo se adaptarem à profissão degradante, com extraordinária rapidez, ultrapassando em mentira e disfarce, o que vão aprendendo com outros já "estradeiros" no ofício da malandragem.
Meus caros confrades. A assistência vicentina não tem mãos a medir, na ajuda aos emigrados da zona rural, em corrente contínua. Assistência do alimento básico, mas, mais do que isso, na tentativa de proporcionar meios de vida digna. Vamos nos unir em ideiais e ações concretas, na busca da real ajuda ao próximo.
