ENERGIA E EQUILÍBRIO NA DUALIDADE DO SER

Crônica de Yone Passaglia Gomes de Matos, publicada no jornal Degrau em dezembro de 2002.

Hoje é um belíssimo dia desta primavera de 2002, que se veste do mais puro azul, o céu sem nuvens. O sol brilha e as árvores se enchem de flores, os jardins esbanjam beleza na glorificação da vida: o grande altar de Deus.

Sei, porém, que não há apenas o Belo. Mãos criminosas continuavam a agir contra a natureza, provocando incêndios, devastando matas. Mananciais estão sendo ameaçados. Muitos rios Secaram. No Triângulo Mineiro, a próspera cidade de Uberaba encontra-se atualmente em estado de calamidade pública. O rio que abastece a cidade está completamente exaurido e técnicos e autoridades lutam para encontrar novas fontes de abastecimento e soluções para aquele importante curso d'água.

Na Serra da Canastra, hectares e hectares de reservas florestais foram, recentemente, dizimados pelo fogo. Até no exuberante Pantanal Matogrossense inúmeras fontes estão secas, peixes morrem por falta de água, sufocados na lama. E os pássaros, onde irão fazer os seus ninhos?

As florestas já não são o recinto sagrado onde os eremitas buscavam refúgio, o lugar misterioso, repleto de fadas e duendes, enchendo de sonhos e fantasias nossa imaginação.

Mas é primavera e o coração se enche de esperança.

Há movimentos promissores de voluntários que se unem para coibir a ação abusiva dos malfeitores. Ao lado desses, multiplicam-se os que se empenham para restabelecer o equilíbrio entre o Homem e a Natureza, por meio do aperfeiçoamento pessoal, em prol do bem coletivo. Se estamos saudáveis, de bem conosco mesmos, também estaremos de bem com o próximo.

É um novo caminho que se abre, advindo da sabedoria oriental, adquirida ao longo de milênios. No coração da nossa metrópole, vemos crescer essa busca.

Esse caminho privilegia a evolução individual, como o princípio da mudança de atitudes. Muitos são os que praticam meditação, yoga, acupuntura e as milenares práticas taoístas.

Sou entusiasta praticante do Tai-Chi-Chuan e do Lian Gong e testemunha dos seus reais benefícios.

Tanto o Tai-Chi-Chuan como o Lian Gong beneficiam a saúde – física e espiritual – e possibilitam a longevidade.

O Lian Gong consiste num sistema completo de exercícios, com o objetivo de prevenir doenças, fortalecendo as funções dos órgãos internos e das vias respiratórias, e restaurar os movimentos naturais do corpo, evitando dores e problemas de articulação.

O Tai-Chi-Chuan é, antes de tudo, um principio: princípio do equilíbrio do corpo e do espírito, da alternância natural de movimento e serenidade. Os movimentos são lentos, suaves, mas precisos. Adequado às pessoas de qualquer idade, o Tai-Chi-Chuan visa preservar a saúde do corpo físico e cultivar a tranquilidade interior.

A origem do Tai-chi-chuan perde-se na voragem turbilhonante do tempo. Sua criação é atribuída ao lendário monge Char Sang Feng. O monge ter-se-ia refugiado para meditar, na montanha Wu-Tan (morada dos deuses e dos imortais). Certo dia, presenciou uma luta entre a gralha e a serpente. Observou como a serpente se esquivava das bicadas da gralha, contorcendo o corpo. Aqueles meneios conseguiam neutralizar a força do bico da ave. A gralha, por sua vez, abria as asas e alteava pequenos voos, fugindo do abraço da serpente. O monge tirou dessa luta uma lição de vida, criando os movimentos da "dança da saúde".

O fundamento filosófico do Tai-Chi-Chuan poderia ser resumido como a busca do equilíbrio para se viver plenamente, aperfeiçoando-se o físico e o espiritual, harmonizando-se o Homem e o Universo pela livre circulação do impulso vital ("chi"). Pelos meridianos, a energia que vem do céu e da terra equilibra o corpo.

O mundo na sua dualidade: o yang e o ying, completando o círculo energético. Os dois sopros vitais, o yang – masculino, seco, centrípeto, Sol, luz – e o ying – feminino, úmido centrífugo, Lua, escuridão –, em complementariedade.

Acredito que esse anseio de crescimento individual, que possibilita o aperfeiçoamento coletivo, seja a solução para as inquietudes da vida do nosso cotidiano.

No respeito à natureza, o agradecimento ao céu e à terra, à existência. No conhecimento de si próprio, na dualidade "corpo-espírito", a célula viva integrada na força cósmica universal.