ESPELHOS – Santino Gomes de Matos
- Maria Isabel Gomes de Matos
- 14 de out. de 2023
- 1 min de leitura
Atualizado: 28 de abr.
A outra face de mim
talvez ande perdida nos sargaços do mar.
– Diz que no fundo do mar era uma vez um peixe.
E o peixe engoliu um anel,
e o anel tinha uma pedra
com o feitiço de espelhar a alma,
a verdadeira alma da gente.
A outra face de mim
talvez passeie no côncavo do céu,
feita estampa de São Jorge,
na redoma de prata da lua cheia.
– Bênção, Dindinha Lua!
E eu, lá de cima,
a derramar sonhos louros de felicidade,
vago e disponível,
como um deus em férias.
A outra face de mim
passa arrastada pelos ventos descabelados dos redemoinhos.
Afunila-se de revoltas espiraladas no espaço,
cheia das coisas desprezíveis do chão,
com uma arremetida temerária
de trapos, de misérias velhas,
contra as alturas de ouro do sol,
contra a indolência de paina das nuvens.
A outra face de mim
é o mistério do irrevelado.
À maneira de uma força que se debate, indecisa,
algemada de angústias para os abismos sem termo,
e, ao mesmo tempo, marcada da ânsia das levitações,
em tentativas de fugas transcendentes.
Não sei nem saberei nunca
a outra face de mim.
Do livro Vozes Íntimas
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