EVASÃO – Santino Gomes de Matos
- Maria Isabel Gomes de Matos
- 5 de out. de 2022
- 1 min de leitura
Atualizado: 23 de abr.
Procuro o não visto e não sentido.
Ou me procuro a mim mesmo?
O "Sputinik" quer ser lua.
O "Vanguard" pretende a irmão do sol.
Eu quero apenas libertar do chão a minha imagem,
resgatá-la da nódoa funeral da sombra
e empiná-la no ar,
como um papagaio místico.
Fixo-me neste ponto de treva,
que sou eu mesmo, na minha sombra irresgatável:
resíduo inútil da luz que passou
ou antecipação negra do dia que ainda não foi gerado
e ainda dorme no sono eterno dos sóis.
Nenhum de vós, meus amigos,
sois, tolamente, uma interrogação.
Trazeis convosco a vossa bússola,
tendo aprendido de cor o papel da compenetração,
solidamente instalados,
com o passo de hoje ajustado ao passo de amanhã,
até o derradeiro dia de um rosário de dias.
Pois eu cometo o incrível desvario
de sobre-estar no meio do caminho,
duelando com o mistério maior da minha presença.
Para quê? Para onde?
Os ecos anularam-se todos,
quando meus olhos se introverteram
no poço sombrio dos últimos enigmas.
E a minha realidade atomizada,
entre perdições de céu e mar,
dissolveu-se na perplexidade dos intermúndios.
O não visto e o não sentido
doem com agudíssima dor em meu cérebro.
Ou sou eu quem dói,
nos tecidos pobres do meu entendimento,
confuso e opaco,
como a sombra do meu corpo no chão,
cada vez mais chão e mais negror?
Do livro Céu Deposto
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