FRANCISCO HOLANDA MONTENEGRO
- Maria Isabel Gomes de Matos
- 2 de mar. de 2024
- 2 min de leitura
Atualizado: 28 de fev.
"Meu prezado Santino,
Em mãos, sua atenciosa carta de 18 de outubro.
(...)
Santino, como me recordo dos tempos do Seminário! E, principalmente, do episódio em que, aos 11 anos, fora me aplicado injustamente um castigo. Lembra-se? Você, pouco mais velho, com coragem inigualável, juntou os seminaristas todos e, como líder da comunidade, marchou até o Padre Prefeito para lançar um protesto veemente contra a injustiça. Como meu advogado, com muita energia, com tanta sinceridade, com tanta lealdade, usando de linguagem tão convincente que deixou o Padre Prefeito atordoado, não tendo outra saída senão a de me liberar do castigo. Creia, meu prezado, que aquele seu gesto magnânimo, revelação de um coração profundamente humano, ficou bem gravado no meu subconsciente e, por mais de uma vez, já tive oportunidade de relatar esse fato aos meus alunos.
(...)
Lembro-me ainda do jovem Professor Santino lecionando no "Ginásio do Crato", já destaque na comunidade educacional!
(..)
Dirijo o Colégio Diocesano do Crato, hoje, Instituição Diocesana, desde 1938. Vinte e cinco anos de direção. Toda a minha mocidade foi gasta nesse afanoso trabalho. Como é difícil educar a juventude de nossos dias... A gente sente crescer, dia a dia, a crise de autoridade, numa conspiração lenta e continuada contra as forças vivas da nação. Como tudo isto decepciona o educador bem intencionado, que ainda pensa em formar uma geração nova com valores para os dias de amanhã. Estou deveras cansado. Vocação? Imolação? Sacrifício? O que sei é que tudo tem sido feito com uma única intenção: servir ao meu próximo e ao meu Deus 'Omnia ad majorem Dei gloriam'.
Estou lhe remetendo, junto, o atestado de magistério neste Colégio, conforme nossos arquivos, com o período de seu exercício de magistério durante os anos de 1931 e 1932, como solicitado.
Com amizade, sempre, Padre Francisco Holanda Montenegro"
Monsenhor Francisco Holanda Montenegro (Jucás, 25 de feveriro de 2013 – Crato, 10 de abril de 2005). Educador e escritor, foi diretor do Colégio Diocesano do Crato por 52 anos, professor da Faculdade de Filosofia do Crato e membro do Conselho de Educação do Ceará. Reverenciado como educador e benérito, foi também escritor. Com várias obras publicadas, era membro do Instituto Cultural do Cariri.
