top of page

GILBERTO REZENDE – GALERIA DE PERSONAGENS DA HISTÓRIA DE UBERABA

  • Maria Isabel Gomes de Matos
  • 10 de out. de 2024
  • 4 min de leitura

Atualizado: 12 de out. de 2024

"Ficou na memória de todos a imagem de um homem íntegro, um intelectual que contribuiu sobremaneira com a imprensa e a educação em Uberaba, que está intrinsecamente ligado à cultura da cidade, e que deixou seu rastro de saudade em todas as entidades, imprensa, escolas e faculdades, por onde o grande jornalista, poeta, prosador e mestre da língua portuguesa passou."


"Maquinaria ou Maquinário? Duas palavras iguais, com o mesmo sentido. O dicionário Michaelis de hoje registra que uma é sinônimo da outra.


Na década de 1960, dois grandes estudiosos da língua portuguesa, brilhantes e invejáveis intelectuais, portadores de riquíssimos currículos, com diplomas em PHD, mantiveram, por um longo período, um embate por meio da imprensa por divergirem na interpretação deste vocábulo.


Dom Alexandre Gonçalvez do Amaral, então bispo metropolitano da Diocese de Uberaba, reconhecido como um dos expoentes da cultura brasileira, com formação eclesiástica e considerado como o maior orador do clero brasileiro, ao escrever a palavra maquinário em um de seus artigos publicados pelo Correio Católico, teve a contestação de Santino Gomes de Matos, um dos raros intelectuais que ainda poderia ser encontrado no interior do País


Com vasta formação acadêmica, Professor Santino possuía profundos conhecimentos de Linguística, Filologia, Literatura e Português, o que o transformaram em Mestre da Língua Portuguesa.


Enquanto Dom Alexandre se expressava pelo jornal que ele mesmo fundou, Santino Gomes de Matos fazia suas réplicas e tréplicas por meio das páginas do jornal Lavoura e Comércio.


Foram meses de embates, mas foram também aulas valiosíssimas proporcionadas pelos dois gigantes da língua portuguesa par aos leitores que, embora divididos em suas opiniões, acompanhavam extasiados o desenrolar da contenda literária. Afinal, o professor Santino lecionava na FISTA, faculdade católica.


E quem era este "ousado" professor? Santino Gomes de Matos, nascido em 1º de março de 1908 na cidade de Icó, Ceará, já demonstrava sua genialidade desde criança, pois aos 4 anos de idade já conseguia ler corretamente. Aos 8 anos já era responsável por alunos da escola de seu pai. Sua vocação ao magistério o fez professor no Crato (CE) e depois em Ribeirão Preto (SP) e Orlândia (SP).


Chegou a Uberaba em 1935, a convite, para ser redator-chefe do jornal "Gazeta de Uberaba", cargo que ocupou até 1939, época em que passou a redator-chefe do jornal "Lavoura e Comércio", ali permanecendo até 1948. Desta data em diante passou a dedicar-se mais ao magistério, sem perder o vínculo com o jornal Lavoura e Comércio, onde, semanalmente, publicava uma coluna sobre filologia e gramática, bem como uma coluna intitulada "Cupim, Barbela e Gavião", incentivando a vocação uberabense para o aprimoramento da raça zebuína.


Era também correspondente do jornal O Estado de São Paulo, para o qual registrava os fatos importantes que ocorriam na região.


Mas foi na área educacional que Santino Gomes de Matos mais se destacou. Professor de português, francês, inglês e latim, lecionou na Escola Normal (hoje Colégio Estadual Castelo Branco) e foi o primeiro diretor do Colégio Dr. José Ferreira. Foi um dos fundadores da Faculdade de Filosofia Santo Tomás de Aquino (FISTA) e professor de língua portuguesa e de filologia românica.


Para um erudito que traduzia até as língua mortas, grego e latim, e as neolatinas, francês, italiano e espanhol, Santino Gomes de Matos foi um dos primeiros convidados a participar da fundação da Academia de Letras do Triângulo Mineiro, ocupando a Cadeira nº 2.


Poeta e prosador, surpreendeu a todos pela qualidade literária de sua obra. Publicou três livros literários: Flagrantes ao Sol do Norte (contos), Céu Deposto, Procissão de Encontros e Oração dos Humildes (poemas). Este último mereceu um artigo especial na imprensa local, em março de 1940, data em que Santino completava 32 anos de idade, relatando que se trata de obra prima em duas áreas, prosa e poesia. No setor filológico, a obra "O Inferno Divertido da Análise Sintática" foi editado pela imprensa oficial do Estado de Minas Gerais. Para colocar um ponto final na polêmica mantida com Dom Alexandre, escreveu o livro Porque Maquinaria e nunca maquinário. O conjunto de sua primorosa obra o levou à Academia Municipalista de Letras de Belo Horizonte.


Diversos contos de sua autoria foram premiados em concursos promovidos em São Paulo, Belo Horizonte e Curitiba, destacando-se "Fome", "As Calças do Defunto" e "Mr. Severaine".


Santino Gomes de Matos era também funcionário público concursado, lotado no IBGE, tendo sido chefe da agência Modelo, cargo pelo qual se aposentou. Em certa ocasião, ofereceram-lhe vantajosa promoção, com a condição de se mudar de Uberaba. A única forma de evitar a transferência, mesmo com acenos de rendimentos muito maiores, foi a de se candidatar a uma cadeira na Câmara Municipal de Uberaba. Assim, nas eleições de 1962, mostrou seu prestígio, ao ser eleito como o vereador mais votado. Seu amor por Uberaba falou mais alto do que qualquer incentivo financeiro.


Santino Gomes de Matos faleceu em 14 de outubro de 1975, aos 67 anos de idade. Era casado com Yone Passaglia Gomes de Matos, professora e escritora, e tiveram três filhos: Cleômenes, Evandro e Maria Isabel.


Ficou na memória de todos a imagem de um homem íntegro, um intelectual que contribuiu sobremaneira com a imprensa e a educação em Uberaba, que está intrinsecamente ligado à cultura da cidade, e que deixou seu rastro de saudade em todas as entidades, imprensa, escolas e faculdades, por onde o grande jornalista, poeta, prosador e mestre da língua portuguesa passou."


Artigo publicado no Facebook em 10 de agosto de 2021





bottom of page