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HOMENAGEM PÓSTUMA – 1979

  • Maria Isabel Gomes de Matos
  • 13 de out. de 2024
  • 3 min de leitura

Em Santino Gomes de Matos saudamos, com profunda emoção, um dos mais legítimos valores de nossa intelectualidade.


Na sua vida voltada à cultura, Gomes de Matos marcou presença na literatura, como poeta e escritor; no jornalismo, no magistério, de forma exponencial, tendo sido ainda um dos mais eficientes chefes do IBGE.


Como filólogo, teve um lugar especial na História de Uberaba, abrindo aqui um novo capítulo nesse plano de estudos.


Gomes de Matos foi, algumas dezenas de anos depois do falecimento desses eminentes cultores da língua, o sucessor direto de Joaquim Dias, o grande latinista e filólogo; de Manoel Felipe de Souza e Athanásio Saltão. Os mestres morreram sem deixar sucessor. Gomes de Matos veio, anos depois, preencher a lacuna aberta com o seu desaparecimento. E o fez com o mesmo brilho e grandeza de seus antecessores.


Redator-chefe do Lavoura e Comércio durante vários anos, diretor da Gazeta de Uberaba, na sua última fase, colaborar de outras folhas da cidade e da região, correspondente do Jornal O Estado de São Paulo, Gomes de Matos levou para a imprensa um contribuição substancial de inteligência e cultura.


Era um homem culto, cuidadosamente preparado para suas atividades e servido por um talento de escol.


O seu ingresso no jornalismo local fez época. Sentiu-se imediatamente que a sua presença alargava os horizontes da nossa imprensa, que conquistava, para as suas lides diárias, o concurso de mais uma figura de alto nível intelectual.


A sua contribuição foi vasta e fecunda. Gomes de Matos orientava e conduzia, sugeria campanha, incentivava movimentos que ganharam, por várias vezes, as dimensões de verdadeiras cruzadas. E escrevia. Produzia muito e em nível de excelência.


Reportagens, notas, comentários, artigos, polêmicas (sempre construtivas) saíam aos borbotões de sua pena ágil, de forma escorreita e primorosa.


Rejuvenesceu a "Gazeta de Uberaba" e enriqueceu as colunas de "Lavoura e Comércio", sentindo-se nele, permanente, um grande de Espanha na riqueza de sua inteligência e cultura.


Mas foi na literatura, principalmente, que Santino Gomes de Matos assinalou presença, com livros do porte de "Oração dos Humildes", "Procissão de Encontros" e tantos outros, que definiam imaginação, poder criativa e delicada sensibilidade.


Afetividade, delicadeza de sentimentos, características que formavam uma constante na vida de Santino Gomes de Matos e que o prenderam para sempre a Uberaba, por laços afetivos que ele jamais quis romper. Poderia ter triunfado em qualquer capital, no Rio ou em São Paulo, preferiu, porém, continuar nesta cidade, no convívio dos colegas, dos amigos que tanto lhe queriam bem. E ficou para sempre: – a terra que ele serviu generosamente o guarda carinhosamente no seu seio.


Homem de extraordinária coragem e firmeza de princípios, formado no seio de uma austera e tradicional família cerarense, Gomes de Matos fez da sua existência uma seriação ininterrupta de dedicação à cultura e ao trabalho. E viveu mais em função dos seus do que de si mesmo. Vivo, construiu pela palavra. Morto, continua a construir pelo exemplo que legou a Uberaba.


Ao rezar a sua Missa de Trigésimo Dia, celebrada por Monsenhor Juvenal Arduiui na Igreja de São Domingos, o sacerdote, que estava ligado ao saudoso morto por uma sincera amizade fraterna, contou um detalhe da fase final de sua convivência.


Gomes de Matos, que estava internado no Hospital São Domingos, era visitado diariamente por dia por Monsenhor Juvenal Arduini, que, uma tarde, recebeu um recado urgente de Santino. Ao aproximar-se do seu leito, Monsenhor Juvenal Arduini foi recebido pelo enfermo com animação e alegria, que contrastavam flagrantemente com seu estado físico. E as palavras que saíram de seus lábios tinham um acento vivo de confiança: "Monsenhor Juvenal, estou preparado. Posso ir tranquilo, quando o Senhor me chamar!"


A preparação vinha de longe. Vinha de uma vida inteira dedicada à sua família, ao seu trabalho, aos seus amigos, à sua cidade, na boa orientação das gerações novas para um mundo melhor.



Artigo publicado em 3 de julho de 1979

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