SOLENIDADE: TRIBUTO A QUINTILIANO JARDIM – DISCURSO DE SANTINO GOMES DE MATOS
- Maria Isabel Gomes de Matos
- 29 de nov de 2022
- 3 min de leitura
Atualizado: 14 de abr de 2024
Na praça de Santa Rita, o jornalista, professor e escritor, antigo companheiro de muitas batalhas, Prof. Santino Gomes de Matos, proferiu a seguinte lapidar oração na inauguração do busto de Quintiliano Jardim. (Lavoura e Comércio)
Sr. Prefeito Municipal. Sr. Arcebispo Metropolitano. Autoridades civis, militares e eclesiásticas. D. Zizi, distintos filhos e demais familiares de Quintiliano Jardim. Aqui falo com o agradecimento de quantos concorreram para a efetivação desta homenagem. E é a cidade inteira que envolvemos em nosso sentimentos, porque da contribuição popular se constituiu o fundo necessário às despesas do monumento de bronze que Uberaba devia ao eminentíssimo dos seus filhos.
O povo, mais uma vez cumpriu o seu dever. Acorreu ao chamamento da justiça, pondo nas dádivas grandes ou pequenas o mesmo sentido de um preito profundamente arraigado na alma coletiva.
O jornalista que deu a Uberaba mais de meio século de atividades com lutas e vitórias memoráveis, consubstanciado com o destino da terra para servi-la e engrandecê-la em termos do mais subido idealismo, recebe da sua gente o símbolo material da imortalidade, para o culto das gerações.
Outra maior recompensa não sonham os eleitos da vocação pública com autenticidade indubitável. E o jornalista requer entre todos o privilégio por excelência de um funcionário das massas, de um intérprete mais chegado dos seus ensaios, mão a mão com os mil problemas do quotidiano, do terra a terra, na planície igualitária, sem embargo das projeções de altura com que desvenda horizontes e põe no futuro visão divinatória.
Quintiliano Jardim cumpriu como nenhum outro homem de imprensa, entre nós, a vocação de ser povo e do povo. Embora na renúncia de todo o prêmio que a imensa modéstia não lhe permitia a almejar, certamente não recusaria a glória de ser perpetuado em bronze numa praça de Uberaba, pelo oferecimento franco e entusiástico de milhares de amigos e admiradores.
"Se lá no assento etéreo memória desta vida se consente", dizia o poeta Quintiliano Jardim, há de sentir neste preito, integrada na sua consciência, a própria consciência do povo a serviço de quem colocou a força maior da inteligência da cultura e do civismo.
Perante este bronze, dizemos hoje e hão de dizer amanhã, na sucessão das idades, quando ainda mais cresce, na distância do tempo, a estatura dos grandes homens e dos heróis, que Uberaba teve um extraordinário lidador da pena, que alcançou nas conquistas da civilização todos os merecimentos de um pioneirismo indisputável.
Clava e escudo, para derruir erros e preconceitos, não faltaram nunca à causa dos pequenos e dos fracos com sustentação a qualquer preço, mas a pena que Quintiliano empunhou também tinha cintilações de ouro nas produções artísticas do literato de escol, poeta de água límpida e robusto prosador.
Fala-se muito de materialidade dos tempos que aí correm. O que hoje principalmente conta e importa é o preço do homem e das coisas, em balanços de metal sonante, e não os valores do espírito em sugestões de eternidade. Entretanto, Uberaba aqui oferece um depoimento inteiramente contrário ao exagero de se ver tudo reduzido a um espantoso sonho de Midas. Quintiliano construiu acima de tudo um tesouro de espiritualidade. Foi grande e magnífico pelo prestígio moral e civilizador do Lavoura e Comércio e da PRE-5, em que se exprimiram os créditos máximos da cultura de Uberaba.
E é reverenciado neste momento como o símbolo de uma grandeza incomparavelmente maior do que a dos cresos e nababos.
A traça e a ferrugem, de que falam a letras sagradas, não têm poder sobre o legado que ele nos deixou. São sulcos abertos perenemente, em caminhos de altura, com uma fé sustentada nos destinos superiores do homem. A sua força de liderança não foi de ontem, porque é de hoje e será de todos os tempos. O que pugnou pela liberdade, pela felicidade maior do povo, alfabetizado e consciente, para a participação de todos os bens da vida e consequente abolição da miséria em que sucumbe a dignidade humana, o que espalhou em lições de altruísmo, para que prevalecessem os interesses maiores da coletividade, tudo o que realizou nos planos luminosos do ideal, incorporou-se ao patrimônio comum da sua terra e do seu povo inestimavelmente.

