ISMAEL GOMES BRAGA
- Maria Isabel Gomes de Matos
- 30 de mar. de 2024
- 2 min de leitura
Atualizado: 11 de out. de 2024
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De mão amiga, recebi recorte de 'Lavoura e Comércio' com seu excelente artigo 'Viagem
através dos compêndios – Lógica e Gramática', e desejo bater-lhe palmas pelo excelente trabalho realizado.
Realmente, a linguagem não é lógica. Quando dizemos que 'o sol nasce', 'o sol se põe', registramos apenas um erro de sentidos, uma ilusão que nos pareceu realidade durante milênios, mas que está astronomicamente errada. Nosso dicionário está repleto de vocábulos formados por falsas aparências. A linguagem depende de pontos de vista, de julgamentos subjetivos.
(...)
Houve um momento, emq ue alguns pensadores esperantistas supuseram que o Esperanto poderia ser a primeira língua rigorosamente lógica do Planeta, e entraram a lutar com essa finalidade. Mas encontraram a oposição muito forte do Autor mesmo do Esperanto, que esclareceu o assunto de modo indiscutível: "Se a língua pretendesse ser sempre rigorosamente lógica, ela seria um maquinismo morto e de manejo difícil, porque a inteligência humana não é rigorosamente lógica; temos que criar a língua para os homens e não os homens para a língua. Portanto, a língua tem que possuir modismos, expressões, correntes, palavras vivas e usuais, e não somente frases lógicas'.
Ora, se o Esperanto, criado 'cientificamente' no gabinete, com uma gramática fundamental apriorística, não pôde alcançar esse ideal da lógica perfeita, e tem idiomatismos, palavras ilógicas, embora em número menor do que as outras línguas; como se poderia pela gramática criar o falar lógica para as línguas criadas pelos homens que espontaneamente fabricaram as línguas nacionais?
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Vemos a imperfeitíssima (em termos lógicos) língua hebraica, com seus infinitos idiomatismos, conservar por mais de dois mil anos a unidade nacional de um povo espalhado pelo mundo, até reconduzi-lo à primitiva pátria. Os gramáticos israelistas nesses dois mil anos não tentaram tornar lógica sua língua. Limitaram-se a registrar seus modismos, já usados há mais de dois mil anos, e deixá-los como são.
(...)
Era minha intenção inicial apenas felicitar V. Sa. pelo seu excelente artigo, mas me foram surgindo pensamentos diferentes que me afastaram desse tema, para pensar em assuntos parentes. Perdoe-me, ilustre professor, a audácia de escrever-lhe carta tão longa.
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Trecho de carta de Ismael Gomes Braga a Santino Gomes de Matos
Ismael Gomes Braga (Ubá, 12 de julho de 1891 – 18 de janeiro de 1969). Autodidata, com notável inteligência e privilegiada memória, estendeu-se ao estudo de idiomas: francês, inglês, italiano, espanhol, latim, grego, hebraico. Entusiasmado com o esperanto, tornou-se mestre nesse idioma e um de seus maiores divulgadores no país. Foi também um expressivo divulgador da doutrina espírita, trabalhando intensamente junto à Federação Espírita Brasileira.
