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JOCKEY CLUB DE UBERABA

  • Maria Isabel Gomes de Matos
  • 25 de mar. de 2024
  • 3 min de leitura

Atualizado: 13 de abr. de 2024


"Levamos a conhecimento que a Diretoria do Jockey Club de Uberaba deliberou inserir, em ata, voto de profundo pesar pelo falecimento de Santino Gomes de Matos, ilustre cidadão, intelectual do mais alto gabarito, inesquecível por suas ações em prol da cultura, da educação, do desenvolvimento de Uberaba, e que enriqueceu por tantos anos os quadros deste clube.


Na mensagem de condolência à família, manifestamos nossa consternação pela lamentável ocorrência.


Ney Martins Junqueira – Presidente

Edmundo Rodrigues da Cunha Filho – Secretário"


Mensagem de condolências

"(...)

Depois de 'Oração dos Humildes' e 'Procissão de Encontros', Santino Gomes de Matos apresenta mais uma mensagem de sua inteligência e sensibilidade: 'Céu Deposto".


Há no volume sonetos do mais puro parnasianismo, quadras e poemas modernos. Algumas páginas apresentam versos livres e outras que obedecem à medida rigorosa da métrica. Em todos eles, porém, o poeta se revela, fazendo-os podertosos instruentos de expressão.


A verdade – podemos afirmar sem injunções de amizade ou acenos de simpatia pessoal – é que 'Céu Deposto constitui uma obra poética asteticamente construída com uma capacidade de comunicação que alcança o mais profundo recesso de nossa alma.


Le os o volume com emoção, confessamos. Admiramos a beleza e a variedade de imagens de fino lavor; a cadência rítmica dos versos; a harmonia fidalga da forma, que faz de suas páginas autênticas páginas d eantologia. M as, acima de tudo, o que sentimos no livro foi a presença real desse grande poeta, de um coração abnerto à belea e à compreensão, capaz de libertar-se das preocupações quotidianas para procurar nas clareiras altas do espírito, à lusz da inspiração, o verdadeiro sentido que a vocação imprimiu à sua vida.


O homem de nível cultural superior e de ideias arejadas, que há em Santino Gomes de Matos, não se perdeu nas exigências da rotina burorática; não abdicoiu de sua verdadeira personalidade nas obrigações de todos os dias; não aburguezou o seu espírito.


A prova é que brinda-nos com esse magnífico 'Céu Deposto', penetrando fundo da nossa sensibilidade.


Ressaltam nos seus poemas sentimentos profundos, que nada têm de comum com o sentimentalismo caricatural ou mórbido que se insinua em tantas produções poéticas, para deturpá-las e amesquinhá-las. Revelam, ao contrário, em toda a sua plenitude, uma alma altiva e sensível, que não se limita a refletir apenas a fisionomia exterior dos temas, mas vai ao âmago de todos eles, à sua essência e significado.


'Cinzas', soneto que abre o volume, é uma joia parnasiana. Segue-lhe uma quadra – "Quid est?" – que encerra uma definição amarga da vida, que "no começo,não é nada... no fim, é nada também.'


Destacamos 'Viagem', poema de feição moderna, esses versos de singular beleza e singificação:

'O som que investiu com as alturas,

a correr os espaços puros,

faz duo com vozes de liberdade

que, estranhamente, acordam em mim e reagem

do fundo de vehos silêncios resignados.'


Vamos pelo volume afora numa sucessão de encantamentos, extasiando-nos com o conteúdo emocional de uns poemas, com a sutileza e a sugestão de outros.


Um simples verso – o primeiro da quadra 'Ciúme' – tem singular força evocativa, cheia de cor e harmonia, como se o artista da palavra substituísse a pena por sugestivo pincel de pintor: "Restos de sol com perfume'.


Que poder de definição, que dolorosa evocação do escoar incessante da vida, nesta quadra que na sua simplicidade encerra algo de prenunciador e terrível: Morte a varejo 'Pulsa o relógio da sala, moendo a hora comprida. E o tique-taque me fala de um conta-gotas da vida.'


A alma lírica do poeta canta dolente, em 'Covardia', soneto do qual destacamos este terceto: 'E terei de voltar ao meu passsado, mais triste, mais sem mim, acoovardado da saudade infinita dos teus olhos!'


Em 'Terra do Coração' em que seguimos com o autor 'nu passeio de sol ao sol da mocidade!', há versos que podem ser cmparados aos mehores já escritos na língua portuguesa comoo os do terceto que a seguir reproduzimos:

'É todo aquele céu de luz e cor e aroma, com cheiro matinal de rosa e virgindade, a minha alma resguarda, em luxo de redoma.'


Poucas vexes a música das palavras nor proporcionou tanta emoção. O poder expressivo de 'Ceu Deposto' não alcança, todavia, apenas a vida emocional. Expressa também ideias, situando Gomes de Matos no plano em que se moveram vultos do porte de Antero de Questal e de Raul de Leoni.


O novo livro de Gomes de Matos está destinado a ter um curso vitorioso na sletras pátriaas como obra de real inspiração de de alta perfeição estética.


Queremos, de nossa parte, saudar esse triunfo legítimo, na justa consagração do nome do poeta que tanto enobrece nossa terra.


(...)


Trecho de artigo da seção bibliográfica do Jockey Club em 1962





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