JOSÉ MENDONÇA
- Maria Isabel Gomes de Matos
- 25 de fev. de 2024
- 4 min de leitura
Atualizado: 11 de out. de 2024
"Céu Deposto
Só um grande poeta poderia escrever esta trova:
'Se alguém disser, sem refolhos,
de outra maior maravilha,
é que nunca pôs os olhos
nos olhinhos de uma filha.'
É assim a poesia de Santino Gomes de Matos, em 'Céu Deposto', seu novo livro. O autor de Procissão de Encontros, Oração dos Humildes, sinceramente aplaudido por todos os que, no Brasil, amam a poesia, volta com ritmos novos, levando-nos à contemplação da eterna beleza.
Ele nos transmite as vibrações de sua alma, exprimindo as sensações que lhe despertam o mundo, os homens, a vida. Por isso nos enleva, nos comove e nos encanta. Ele diz que a poesia, atualmente, deserta o mundo. Mas ainda a encontra no amor, e canta, magnificamente:
'Ainda virá do teu peito
o canto louro da derradeira manhã.
E entre os homens de utilidade metálcia,[sem leveza e sem acústica]para a perdição encantada do mistério,
cumprirás com a tua presença
a presença inevitável da Poesia.'
A civilização contemporânea, brutalizando e mecanizando os homens, esgotando-os e fatigando-os, arrebata-lhes as doçuras e a felicidade da contemplação, dos êxtases. Por isso a Poesia procura fugir para a irrealidade, para o mundo dos Sonhos, do Amor e da Beleza.
'Onde foi o apito do trem?
A Distância faz-me um convite,
sem mãos, sem gestos,
sem sorrisos.
e um impulso perdido resvala no gume dos horizontes inviolados.
Fumega em meu sangue cigano]a vocação de partir.
Quero aliviar-me do chumbo das minhas limitações
no apelo histérico do trem.
O som que investiu com as alturas,
a correr os espaços puros
faz duo com vozes de liberdade
que, estranhamente, acordam em mim e reagem
do fundo de velhos silêncios resignados.'
'Céu Deposto' é livro que honra e enaltece a poesia brasileira. Dignifica e exalta a nossa cultura e a nossa civilização.
Santino Gomes de Matos é, hoje, um dos melhores, um dos mais legítimos intérpretes do nosso lirismo. A alma de nossa gente canta nos seus poemas. Em seus versos nós sentimos as palpitações em nossos corações. Em suas poesias nós todos nos encontramos. Encontramos nossos sonhos, nossos amores, nossas esperanças, nossa crença, nossas desilusões, nossos sofrimentos, nossas saudades...
'Descamba o sol, e a saudade
de palor nos enche a vida:
é o luar da mocidade na hora velha da descida.'
Há muito, considerávamos Santino gomes de Matos um dos mais ilustres poetas brasileiros da atualidade, dos mais dignos de aplausos e de admiração. Agora, com a publicação de 'Céu Deposto,' ele se torna carinhosamente amado por todos os que não sabem e não podem viver sem poesia.
'Eu tenho um pífaro que ressoa
afinado pelos gemidos do mundo.'
Sim, são as vozes de todos os homens que vibram sonoras nos cânticos do poeta, procurando libertar-se de seu sofrimentos, de suas angústias, de suas limitações, ansiando pela realização dos seus sonhos, principalmente do seu grande sonho de Fraternidade e de Amor.
Os espetáculos do nosso mundo deixam-lhe um laivo bem acentuado de pessimismo. 'Opressões. Guerras. fome. Miséria. De qualquer parte das distâncias enchendo a fuga de todos os ventos corre o tumulto da miséria civilizada, a precipitar-se nas últimas crateras dos Megatons'.
Mas o poeta sabe que o Amor um dia há de redimir a humanidade.
Por isso cante! Deus é Amor e no Amor se encontra a poesia. Quem não gosta de música e de poesia não sabe amar, não gosta de Deus.
José Mendonça
Artigo publicado no Diário do Comércio de Belo Horizonte, em 3 de maio de 1962
"Prezado Professor Santino Gomes de Matos:
Atenciosa visita.
Li o 'Céu Deposto' com o mesmo encantamento que já me haviam proporcionado outros poemas seus e logo o passei ao crítico literário deste jornal, Oscar Mendes, para que também tivesse o privilégio de reencontrar-se com o poeta de 'Oração dos Humildes'. Ele próprio, entusiasmado, fez o registro que foi hoje publicado, conforme recorte que lhe envio.
Formulando votos sinceros por que as Musas continuem a inspirar-lhe obras de tamanha beleza e de tanto sentido transcendente, aqui abraça-o o admirador e amigo,
José Mendonça"
Carta de José Mendonça a Santino Gomes de Matos
"(...)
Acabo de reler sua coletânea de poemas e não quero deixar de manifestar-lhe imediatamente o prazer que me causou a comunicação com a mensagem de sua inteligência e de sua sensibilidade. Foram momentos de enlevo inesquecível os que me proporcionou 'Procissão de Encontros'. A essas páginas sei que vou voltar muitas vezes ainda para sentir de novo o encantamento de sua alta beleza.
(...)
Trecho de carta de José Mendonça a Santino Gomes de Matos
(...)
Aracati é um dos mais lindos poemas que eu conheço. Você, meu caro Gomes de Matos, surge na literatura brasileira com um grande livro, afirmando-se Poeta de valor excepcional, vale dizer, revelando a sua grande alma, toda cheia de claridades maravilhosas.
(...)"
Trecho de carta de José Mendonça a Santino Gomes de Matos
Jose Mendonça (Uberaba, 19 de março de 1904 – 4 de julho de 1968), advogado, escritor, membro da Academia de Letras do Triângulo Mineiro. Sugerimos enfaticamente que conheçam a vida e a obra dessa alma nobre pelo site: josemendoca.com.br
