MOACYR ASSIS ANDRADE (JOSÉ CLEMENTE)
- Maria Isabel Gomes de Matos
- 2 de out. de 2024
- 4 min de leitura
Atualizado: 15 de out. de 2024
"O Diabo (A Sintaxe) não é tão feio como se pinta.
Inferno Divertido da Análise Sintática. Este o título do livro, aparecido agora, de autoria de Santino Gomes de Matos, emérito professor de Língua Portuguesa da Faculdade de Filosofia Santo Tomás de Aquino, de Uberaba.
Já o título desperta simpatia no leitor. Porque poucos dos que estudaram a língua ou dos que, por obrigação, aliás imprescindível aos que têm de usá-la falando ou escrevendo, a estão estudando – muito poucos mesmos não considerarão infernal o exigível por numerosíssimos professores dos pobres alunos no agreste da Análise Sintática. Tortura-os com complicadíssimas definições, classificações e regras (que para eles mestres são dogmas) do falar e escrever para a comunicação do animal homem com os da sua espécie, dentro do nosso país.
Daí a análise sintática, apenas citada, produzir até borbolha em muita gente, como acontece com as fincadas para testes alérgicos... E daí ainda o terror pânico da Gramática inteira, por extensão.
Entretanto, a Gramática é tão necessária aos que têm de usar a Língua quanto o guia do cego. E com tudo o que ela traz dentro. O que aconteceu foi horrível e esse horrível ainda continua a ser motivo de emproamento – por causa das várias gramáticas. A caroabilidade da Língua parece não despertar a tais autores interesse.
Não se aprove jamais o disparate dos que dizem ser a Gramática superflluidade para escrever ou falar o nosso idioma, o inglês, o italiano, e por aí além... Isso é bobagem pura. Entretanto, cabe a responsabilidade por esse dizer sacrílego a tantos gramáticos, porque eles complicam demasiadamente o ensino dela. Fabricam os arrepiados contra ela, que deveria ser cortês, amável, convidativa, aconchegante.
É claro que nem todos os gramáticos são iguais. mas também é evidente estabelecer-se entre vários uma porfia discutidora, da qual resulta para o jovem, que tem de aprender a Língua, não a luz, mas a confusão.
Se quem tem obrigação de escrever for respeitosamente a cada frase que lhe vier à cabeça para comunicar-se com o público ou qualquer admissível leitor, atender às tábuas, chaves e subchaves das definições conselheiriais de cada gramático, estará no mato sem cachorro... Perdido e massacrado.
E esse mal é antigo, mas avultou com o tempo, pela emulação, digamos assim, profissional, pois da controvérsia entre os gramáticos armadores de tempestades no potabilíssimo copo d'água da Língua, surgem sempre mais regras formando o cipoal tremendo. E que abundância de nomes complicados. Quase vencem os da psiquiatria, que são milhares, como se vê no Dicionário do Ilustrado do mestre Clóvis Faria Alvim...
O livro do professor Santino Gomes de Matos é de reconhecimento de tudo isso. É um estudioso lúcido da Língua – compenetrado de que a Gramática é para a Linguagem, isto, é para a comunicação oral e escrita, com limpeza, mas com facilidade, sem enfatuamentos.
Lemos com crescente prazer, todos ele. Há o propósito de tornar amável, como é justo, a caminhada na Linguagem, dentro do que é pertinente da Análise Sintática. Familiarizado com os Mestres, compulsador atendo das gramáticas lançadas, ora discorda, ora aplaude o quanto trazem. Tem ele conhecimentos e cultura para criteriosamente assim proceder e dar definições, enquadramentos, regras. Afinal, embora a citação seja de bom humor, ela é ajustada: o
Livro utilíssimo, portanto, o do professor com cátedra em Uberaba, como guia de trânsito da Língua."
Artigo de Moacyr Andrade no jornal Estado de Minas de 1º de junho de 1974
"Professor Santino, com meus cumprimentos pelo seu ótimo livro, informo-lhe que publiquei crônica hoje, 1º de junho de 1974, sobre o 'Inferno Divertido', no jornal 'Estado de Minas', sob meu pseudônimo de José Clemente.
Trecho de carta de Moacyr Assis Andrade a Santino Gomes de Matos
"Céu Deposto
De Santino Gomes de Matos, poeta já com área própria na Poesia, que teve muito bem estimada a sua 'Oração dos Humildes' por algumas autoridades na avaliação literária, como Monteiro Lobato, Tristão de Ataíde, A. J. Pereira da Silva e o nosso grande Oscar Mendes, conhecemos agora o "Céu Deposto".
Os cardeais da letras, que reconheceram na sua poesia um alto teor de pensamento e arte, só terão, a nosso ver, motivo para íntima satisfação com o aparecimento de 'Céu Deposto', pela confirmação, que traz este novo livro, dos dons de expressividade lírica do poeta, que, com credenciais próprias, teria de sentir que a responsabilidade delas aumentava, com o pronunciamento-aval de tão ilustres autoridades.
No poeta de 'Céu Deposto' é facilmente identificável uma opulenta estrutura lírica. Tem o sentimento poético e, por isso, a capacidade inata de, em face da vida, do mundo, enfim do todo que nos cerca, captar o sentido de poesia.
Não será pela posse de um equipamento especial de descoberta vindo do exterior para o seu espírito, mas pela atração natural do próprio eu lírico em permanentes buscas fraternizadoras.
Não se tendo calculada e pretensiosamente armado para o objetivo de realização poética, Santino Gomes de Matos, feliz pelos encontros com a mesma espontaneidade com que se sensibiliza, deixa-se conduzir na transformação do subjetivo em poema doação.
Os recursos da Arte, indispensáveis na apresentação poética, não afetam, na transmissibilidade do autor de 'Céu Deposto', o teor do pensamento, mas, ao contrário, aprimora-o iluminadoramente. Daí seus poemas, em que inspiração, percepção e beleza se consorciam não somente para o domínio da atenção dos que os lerem, mas para a conquista de admiração. Esta, conquanto influenciada pela preferência do leitor em face das variadas criações artísticas, perante 'Céu Deposito' não entre em desnível, porque todos os trabalhos que o compõem (sejam os poemas ou nas trovas miniaturas de horizontes e profundidades), mantêm o livro num altiplano da Poesia nacional."
Artigo publicado no jornal Estado de Minas em 13 de julho de 1962
"Professor Santino, envio-lhe cópia da nota que tive o prazer e publicar no "Estado de Minas" com o pseudônimo velhíssimo de José Clemente."
Trecho de carta de Moacyr Assis Andrade a Santino Gomes de Matos
Moacyr Assis Andrade (1897 – 1986). Diplomou-se em odontologia. Desde 1917 atuou como jornalista, redator e revisor. Seus trabalhos de jornalista na imprensa mineira foram relevantes. Atuou em todos os principais jornais e periódicos. Assinava artigos também com os pseudônimos de Gato Félix e de José Clemente. Foi redator e diretor da Imprensa Oficial e diretor da Rádio Inconfidência. Com ampla obra literária, foi membro da Academia Mineira de Letras.




