VERÔNICA OU SALOMÉ? Santino Gomes de Matos
- Maria Isabel Gomes de Matos
- 10 de jul. de 2022
- 1 min de leitura
Atualizado: 23 de abr.
Duas estampas na parede,
duas atitudes no mundo.
Verônica, no mistério dos sudários longos.
Salomé, sem nenhum mistério,
desvendada de véu em véu,
na glória da carne pagã.
Vamos rezar urgente
que seja Verônica a preferida de todos.
Uma urgência do mundo,
pela impressão do divino em toda a parte.
Pela presença do Santo, três vezes Santo,
em todas as toalhas que enxuguem faces de suor
ou de sangue.
Multiplicadas as Verônicas,
multiplicado está o prodígio do compassivo
nas máscaras de sacrifícios e de angústias.
Verônica ou Salomé?
Duas estampas e milhões de olhos postos nelas,
em definição de escolha.
Salomé quer mais cabeças decepadas
sobre os crimes da concupiscência.
Salomé quer que expirem, a golpes de machado, no cepo,
todas as vozes de profetas que clamavam no deserto
e vêm clamar aos ouvidos dos prepotentes.
E tem por si a noite orgíaca e bêbeda.
E tem por si a riqueza impudica
da dança dos sete véus,
como asas arrancadas a sete anjos custódios,
que remontam aos céus, despidos e tristes,
para não testemunharem o triunfo da luxúria e da nudez.
Verônica e Salomé.
Duas estampas na parede, duas atitudes no mundo,
que despreza a santa e entroniza a mulher.
Salomé fascínio, Salomé tumulto, Salomé vida!
Verônica não passa de um espetro,
como um fantasma de forma e de voz
nas esquinas paradas do Senhor Morto.
E as faces de suor e de sangue,
já não há quem as resgate
nos ex-votos miraculosos,
que levem por toda a parte a impressão do divino.
Do livro Céu Deposto
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