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ONDE MORA A HARMONIA

  • Maria Isabel Gomes de Matos
  • 16 de out. de 2022
  • 2 min de leitura

Atualizado: 30 de jan. de 2024

Crônica de Yone Passaglia Gomes de Matos, publicada no jornal Degrau em julho de 2007.


Acontece-me, às vezes, sentir os pensamentos como pequenos seres vivos, leves e alados, pousando aqui e ali, apenas por um instante; sem destino, nem compromisso. Livres e autônomos, negam-se a um mergulho em profundidade, na busca de explicações e soluções para os problemas que nos afligem. Querem, tão-somente, lançar sobre eles um olhar curioso de bisbilhotice descuidada.


Hoje estão assim, irrequietos e apressados. Num repente constatam, sem analisar as vantagens e desvantagens, o fenômeno da globalização, que põe o mundo ao alcance de nossos olhos e de nossas mãos.


Encantam-se, diante da tela de televisão, com a fotografia das belezas naturais que Deus nos deu ou com as obras imortais que inspirou os artistas.


Supreendem-se com os progressos da clonagem. Pois não é que até cientistas brasileiros ocupam lugar de destaque nos experimentos? Estão clonando um exemplar zebuíno. Tomara que seja uma daquelas maravilhas das raças Gir, Nelore ou Guzerá da minha terra de coração, Uberaba.


Depois, quem sabe, será a vez de clonar as beldades nacionais. Qual vai ser a primeira a doar ou a vender uma de suas preciosas células? Será surpreendente ou monótono vê-las multiplicadas em série?


Mas lá vão indo os bichinhos pensantes sem querer questionar se haveria a possibilidade de clonagem de almas. E se não for possível, que tipo de almas ocuparão o devido espaço nos seres reproduzidos? Nada das especulações. Na tela, agora a imagem é outra.


Cenas de horror e selvageria que rememoram os tempos da barbárie, mas de uma barbárie sofisticada, onde se queimam seres vivos para suscitar emoções fortes; onde doentes morrem nas filas dos hospitais; onde a violência, a fome e a miséria são o saldo da inconsciência dos governantes. Os bichinhos pensantes desesperados voam para longe.


Será que além da ilha da harmonia do lar não há algum lugar sereno, de convivência amena e fraterna?


Os bichinos-pensamento deixam-se cair mansamente numa sala de aula da Terceira Idade da Fumec. Um novo lugar abençoado onde estacionar. Ali há paz e harmonia. Há apoio e amizade. Ali ainda se obedece à ordem divina do "Amai-vos uns aos outros".


Os ocupantes dessa sala, que fica na ala direita do prédio central da Fumec, são criaturas adoráveis, que sabem conservar o frescor da juventude espiritual enquanto acrescentam pontos à sabedoria da vivência. Conhecem a importância da alegria compartilhada e da solidariedade no sofrimento e, sobretudo, procuram captar e dividir os pequeninos nadas de que é feita a felicidade.

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