OSCAR MENDES
- Maria Isabel Gomes de Matos
- 31 de jan. de 2024
- 2 min de leitura
Atualizado: 11 de out. de 2024
"Céu Deposto
Oscar Mendes
Tendo estreado há anos com um livro de poemas 'Oração dos Humildes', que foi tão bem recebido por escritores como Monteiro Lobato, Tristão de Ataíde, Levi Carneiro, Pereira da Silva, Antônio Sales, Queiroz Filho, Hélio Lobo, reaparece Santino Gomes de Matos com este "Céu Deposto", em que se encontram sonetos, trovas e versos de forma livre, todos se distinguindo pelo apuro da forma, manejando o autor com habilidade, tanto o verso à maneira clássica como à maneira modernista.
(...)
Dentro desta mesma temática do contraste entre um mundo simples e um mundo tumultuoso de guerras e destruições surge o belo 'Poema do Silêncio', em que ele diz:
'De qualquer parte das distâncias
enchendo a fuga de todos os ventos
e a moradia de todos os ecos,
corre o tumulto da miséria civilizada,
a precipitar-se nas últimas crateras dos Megatons.
O mundo prostituiu o silêncio.
O mundo assassinou o silêncio.
E a morte do silêncio endoidece o mundo.'
Em outros poemas, porém, a nota lírica se faz mais presente, de modo especial nas trovas. Mas a predominância do tom crítico ou irônico é evidente, como por exemplo no longo poema,
o mais longo do livro, 'Trono de Baleia', em que o poeta descreve, com muito colorido, muita vivacidade e senso cômico, uma procissão do senhor do Bonfim, para terminar numa visão apocalíptica do 'fogo do Senhor do Bonfim', quando
'cairem do céu e brotarem do chão
as labaredas santas da depuração, pelo fogo,
dos homens e das coisas,
em face da exaltação essencial do Deus Crucificado'.
Livro amargo, por vezes, mas da amargura de quem clama pela vivência do homem na sua liberdade de sentir, de amar, de gozar da natureza, sem o medo da destruição e do ódio, sem as hipocrisias da civilização, com aquele gosto franciscano das coisas simples e essenciais, que são a própria beleza e pureza da vida."
Trecho do artigo assinado por Oscar Mendes, publicado no jornal O Diário, de Belo Horizonte, em 5 de julho de 1962
"(...) não negamos os méritos de quem sabe sentir e expressar, com emoção e colorido, as tristezas da saudade e os sentimentos da insatisfação e da inquietude."
Trecho de carta de Oscar Mendes a Santino Gomes de Matos
Oscar Mendes (Recife, 25 de julho de 1902 – Brasília, e de novembro de 1983). Advogado, promotor, juiz, escritor, tradutor, ensaísta, crítico literário de renome nacional. Colaborou em diversos jornais e periódicos. Pertenceu à Academia Mineira de Letras.
