SERENATA – Santino Gomes de Matos
- Maria Isabel Gomes de Matos
- 10 de jul. de 2022
- 1 min de leitura
Atualizado: 23 de abr.
Saxofone de serenata.
Modo rouco de sofrer em desafinações.
Não há disponibilidades de graças no céu,
com as luzes economicamente apagadas.
E a música explode de uma alma espessa,
regougando tristezas,
para um casamento de escuridão.
Os sons não pretendem a nenhuma sequência melódica.
Descompassam,
no atrevimento gritado de uma oração,
a sufocar de abandono,
sob o silêncio de mortalha nos espaços sujos.
Rouqueja o saxofone,
talvez avivado pelo sopro de pulmão moribundo.
Alguém desespera do derradeiro apelo de compreensão,
no limbo da noite impermeável.
Meu Deus!
E as sombras fechadas no firmamento carrancudo,
à maneira de costas voltadas ao sonho impossível
deste saxofone irreal, fantasmagórico!
Estarei mesmo a ouvi-lo?
Ou é uma assombração da distância
a tomar corpo na estranha serenata?
Almas penadas de sons delirando em cada nota.
E a angústia pesada e rouca,
que ajunta à treva surda
os desesperos intrínsecos do negro,
do imensamente negro,
como em luto irreparável do mundo.
Do livro Céu Deposto
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