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UM ABRAÇO PERDIDO NA DATA NATALÍCIA DE QUINTILIANO JARDIM – SANTINO GOMES DE MATOS

  • Maria Isabel Gomes de Matos
  • 22 de mar. de 2024
  • 4 min de leitura

Atualizado: 13 de out. de 2024

Artigo publicado em 9 de fevereiro de 1963 no "Lavoura e Comércio"

Velha, de velha constância e carinhoso afeto, é a minha presença na imprensa e no rádio, pela festa aniversária de Quintiliano Jardim.


E me honro de buscar esta distinção, particularmente, como amigo dileto, mas de certo integrado no sentimento do povo, em face de uma das personalidades mais ricas do nosso patrimônio cultural, intelectual e cívico.


Cívico, por quê?


Não sei se haveria quem articulasse semelhante pergunta, por totalmente descabida e impertinente. Entretanto, na moldura gloriosa dos grandes homens a lividez da inveja é uma cor de contraste que não falta a nenhuma auréola de benemerência.


Deixássemos a Quintiliano Jardim, que conheço de perto na simplicidade e na modéstia de um coração perdidamente generoso, em doação constante e plena, para o esquecimento de si mesmo, em benefício alheio; deixássemos a este sonhador de sonhos impenitentes, que faz da ternura do passado o céu milagroso de sua vida íntima, sem querer dar-se conta de que o pequeno polegar calçou as botas de sete léguas do gigante da ação construtiva, e andou a devassar mundos de grandeza, magnificamente, para sua terra e para seu povo; deixássemos a

Quintiliano Jardim a preferência do clima emocional do dia de hoje, e não há dúvida de que tudo se resumiria num circulo de abraços de familiares e amigos mais chegados. Insisto, porém na configuração cívica da efeméride.


Não conseguem limitar-se na escusa e na modéstia, ainda que se impregnem de essencial sinceridade, os que detêm o comando dos ideais coletivos, nas aspirações maiores e nas conquistas mais assinaladas de uma comunidade. Extravasam de si mesmos para as

dimensões de homens-símbolos, como geram preito de admiração e reverência.


Quintiliano Jardim, no altiplano do jornalismo sadio, dignificado pela interpretação exata dos interesses das massas, em mais de meio século de apostolado da pena, compendia na personalidade marcante as virtudes cardeais do seu povo.


Paradigma do trabalhador indefesso, alteou do nada o monumento de organização e de prestígio que é "Lavoura e Comércio", sem nenhum favor, o maior jornal do interior brasileiro, na feição gráfica e no conteúdo das ideias, dos norteamentos, dos princípios, em favor do bem e da grandeza comum.


O titã do esforço rendoso, em bases econômicas e financeiras, que aí estão soltas e definitivas, apesar de tantas peripécias em viagem longuíssima e por mares quase sempre revoltos, tinha de ser também um luzeiro de inteligência e de cultura, um padrão da espiritualidade do seu tempo.


E Quintiliano, sem curso completo de letras ou de ciências, sem nenhum diploma, desses que aí andam a enfeitar vaidades doutorais, inchadas e vãs, carreou para o seu espírito conhecimentos de tal maneira vastos e profundos, que o jornalista consumado, que o mestre incontestável e incontestado da imprensa, pôde sempre versar com propriedade, elevação e acerto, qualquer assunto do "metier".


Desde o artigo de fundo severo e doutrinário, às vezes na disputa acesa da polêmica, em que ninguém nunca lhe levou a palma de vencedor, até o sujeito ligeiro, até a crônica social risonha e sem compromisso, até o noticiário indistinto da cozinha do jornal – em todos os gêneros em que se distribuiu e multiplica o jornalista pasmosamente enciclopédico, Quintiliano Jardim nunca foi vulgar, nunca deixou de traçar o sulco da originalidade e do talento, com o poder de vocação que havia de extremá-lo na fama e na glória.


Tem de ser, assim, um acontecimento cívico a data natalícia de Quintiliano, que acompanhou Uberaba em todas as principais bases de desenvolvimento material e intelectual, assistindo-a nas iniciativas de progresso, ajudando-a a rasgar horizontes novos, nos rumos certos da transformação de um pequeno burgo, neste centro esplêndido de civilização, com a sua pena sempre embebida no sentimento do povo, haurindo das fontes legítimas dos anseios coletivos a inspiração do idealismo, da abnegação, do desinteresse pessoal, desde que posto em causa o interesse maior de Uberaba.


Quintilino, para quem o tempo não conta, no privilégio do seu espírito singularmente moço e atual, capaz de todos os assomos de entusiasmo e de combate, no lugar que ainda ocupa na antiga mesa de trabalho, sustentando a glória viva de mais de meio século de jornalismo; Quintiliano estilista de escol, poeta maviosíssimo, nos favos de Himeto de delicadas produções líricas; Quintiliano que se ergue na majestade de mestre das gerações, e em cada avenida de Uberaba, por onde transita o progresso, e em cada arranha-céu que atira par ao alto o grito de cimento armando do nosso triunfo; e em cada chaminé que cachimba no espaço a fumaça rica das indústrias; enfim, em cada uma das manifestações de desenvolvimento de Uberaba nas suas incomparáveis fazendas de criar ou nas suas sete escolas superiores: – a Uberaba que veio de destinos humildes e cresceu e subiu e agigantou-se até a grandeza monumental que hoje apresenta –; Quintiliano pode por toda a parte identificar muito de si mesmo, do que sugeriu e incentivou, do que fez cristalizar em realidade, através de campanhas memoráveis, formando e dirigindo a opinião pública, fazendo do "Lavoura de Comércio" a alavanca potente que removia os obstáculos da preguiça, da inércia, do conformismo ou dos preconceitos retrógrados para novas claridades de civilização.


Quintiliano Jardim, "Lavoura e Comércio" e "P.R.E 5", eis o trinômio que avulta na data cívica de 9 de fevereiro, para as maiores homenagens de reverência e de gratidão da cidade inteira, que se revê orgulhosa e altamente enaltecida na expressão de invejável patrimônio cultural.


E o jeito que tenho é deixar perdido no preito imenso de Uberaba o abraço fraternal que aqui trouxe ao meu dileto Quintiliano.



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