VIRGEM ASSEXUADA – Santino Gomes de Matos
- Maria Isabel Gomes de Matos
- 10 de jul. de 2022
- 1 min de leitura
Atualizado: 23 de abr.
Arrepio de brisa
na epiderme rugosa da manhã.
Manhã velha, de velhas nuvens encarquilhadas.
O dia, com preguiça de levantar-se,
desdobrou a vestimenta antiga e sabida
de um céu crônico de mortalha.
Manhã de pios neutros de pardais.
Ensaios frustros de canto
martelam uma nota única,
que domina, aborrecida, insistente,
marcando o compasso idiota
para gorjeios inatingidos.
Manhã que se acumpliciou com a noite,
submissa de tristes subornos,
através de uma máscara indecisa,
no esforço inútil da luz que mal transparece,
em laivos pobres de açafrão desmaiado,
aqui e ali.
Enfados de convalescente no céu,
nos homens, nas árvores, nos passarinhos.
A impontualidade brasileira do sol
ainda não eleito no espaço
apresenta a manhã incaracterística
como virgem assexuada.
Do livro Céu Deposto
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