ARTIGO DE SANTINO GOMES DE MATOS SOBRE LIVRO DE GUIMARÃES LIMA
- Maria Isabel Gomes de Matos
- 24 de mar. de 2024
- 3 min de leitura
Atualizado: 13 de out. de 2024
Artigo publicado no "Lavoura e Comércio" em 2 de maio de 1970
A melhor maneira é mesmo agradecer de público a oferta de "Na Linha do Equador". Li o volume todo, de um fôlego. O assunto, na verdade, é de empolgar. Vamos conduzidos por ele através de pronunciamentos valiosíssimo, num crescendo de interesse e de entusiasmo, das primeiras às últimas páginas, de variado sabor, mas todas pontuais no sentimento da Pátria, com um concerto edificante de espíritos afins.
Repetindo uma passagem do livro, do deputado Geraldo Freire, ora na presidência da Câmara Federal, com alvíssaras para o Brasil inteiro, não tenho, evidentemente, a estulta pretensão de fazer o elogio do Dr. Guimarães Lima, pois disso bem prescinde. Mas como nos retempera e nos consola, aos da velha guarda, que já descemos pelo outro lado do espigão, de cabelos brancos e inevitavelmente combalidos da refrega, ver que o Brasil se afirma, poderoso de ideal e de fé, naquele bandeirismo cívico que o Dr. Georges Jardim tão bem lhe assinalou!
Sem se limitar ao culto do Direito, só por si altamente realçador em Jurista de singular eminência, e em Procurador-Geral de percuciente visão e dinamismo, ele, na sua já legendária correição aos Territórios, considerou todos os aspectos negativos das nossas "fronteiras mortas", para transformá-las em "fronteiras vivas", no extremo Norte. E com que eloquência de coragem e de patriotismo o fez! Denunciando clamorosas omissões, advogou providências imediatas, sem tardança, para que aquelas regiões longínquas se incorporem ao ritmo do Brasil Grande, dentro do processo que nos sacode e nos impele, vigorosamente, a um futuro de liderança no mundo.
Calou-me fundo o seu "grito de alerta". Ainda que dos mais pequenos, mas nunca dos menos constantes, numa evocação cívica que me vai além de quarenta anos junto à mocidade das escolas, com um verdeamarelismo que jamais desbotou em nenhum clima político, quaisquer as circunstâncias de desfavor, credencio-me a um lugar à sombra de sua bandeira, em volta da qual se arregimentam figuras preclaras da política, do jornalismo, da magistratura, corroborando-lhe a notável ação pioneira, sem dúvida com influência poderosa no ânimo das novas gerações, pela integração nacional dos Territórios e da Amazônia. Nunca tivemos tanta necessidade de impor o Brasil aos próprios brasileiros, no sentido da participação constante e efetiva do povo nos negócios públicos, pois só vinha sendo considerado e cortejado, periodicamente, periodicamente, na época das eleições, para as moxinifadas crassas dos parlapatões caçadores de votos. É preciso que vingue, aceito e seguido, o exemplo dos que procuram sentir de perto os nossos problemas, e os agitam, e lutam, e insistem, e persistem, sem nunca se darem por derrotados, até as soluções acertadas, pelo rendimento do trabalho de todos.
Não posso concluir estas poucas linhas sobre o magnífico livro sem destacar o capítulo " A magistratura e o Ministério Público em face do Estado Moderno". Nesse se acusa, em grande, a invejável cultura jurídica do autor, a par de vasta cultura geral, como tiveram oportunidade de lhe proclamar nos escritos apreciadores de alto coturno, entretanto, sem acrescentarem que a sua linguagem se molda em forma vernácula das mais apuradas. Nem lhe falta ao estilo, claro e elegante, o sainete das imagens, das citações literárias apropriadas, com referêcias aos autores imortais da poesia e da prosa, com sobriedade e bom gosto, amenizando o rigor e a severidade das letras jurídicas em que é mestre consumado.
Felicito-o nesta despretensiosa notícia pelo aparecimento de "Na Linha do Equador", mais uma assinalada contribuição sua à causa nacional, pelo civismo de ação que revela, através da investidura de Procurador-Geral da Justiça, que tanto ilumina de saber e enobrece do mais sadio patriotismo.