CONFERÊNCIA DE SANTINO GOMES DE MATOS PARA ESTUDANTES DA UNE E ALIANÇA OPERÁRIO-ESTUDANTIL
- Maria Isabel Gomes de Matos
- 27 de mar. de 2024
- 3 min de leitura
Atualizado: 13 de out. de 2024
Reportagem do jornal "Dínamo", de 1- de novembro de 1959.
O tema da conferência do Prof. Santino Gomes de Matos versou sobre Municipalismo e Nacionalismo.
Preliminarmente, disso o conferencista da sua convicção, muitas vezes enunciada, de que o verdadeiro nacionalista tem de iniciar por si a valorização do homem brasileiro, que é o alfa e o ômega de todas as outras valorizações, até a completa independência econômica do país.
Denunciou a realidade em que detentores de poder são muitas vezes irresponsáveis, como frisou, ao sacrificar os interesses superiores da nação às conveniências de grupos ou pessoas que se servem do Brasil, em vez de servi-lo, o fato de nos arrastarmos na penúria do subdesenvolvimento, quando dispomos de todos os meios naturais para nos afirmarmos grandes e poderosos, a par das primeiras nações do mundo.
Citou exemplos do passado e do presente, tirados de livros e de jornais, em que, por indiferença, por comodismo ou por ambição de lucros inconfessáveis de caráter particular, abdicamos prerrogativas de conquistas do bem comum em nossa própria casa, em favor de pretensões estrangeiras.
Profligou a advocacia administrativa, de que o capital explorador ainda se beneficia, embora o disfarce, dos que perjuram a sua fé cívica, como representantes do povo, e vendem o Brasil por trinta dinheiros. Fez, depois, o elogio do município como célula-mater da nacionalidade, mas criticou os municipalistas caricatos, principalmente os de vésperas de eleições, que geralmente transformam um tema de tamanha importância e responsabilidade numa aventura oratória de mitingueiros.
Referindo-se à injustiça clamorosa da discriminação de tributos com a parte de leão cabendo à federação e aos estados, enquanto os municípios não dispõem de recursos nem mesmo para obras essenciais ligadas ao bem estar e ao conforto do povo, pôs em relevo o fenômeno da macrocefalia que caracteriza o crescimento do Brasil. Uma cabeça enorme, e cada vez maior nas capitais, enquanto o interior do país se representa por um corpo raquítico, depauperado, a trabalhar e produzir para sustentar a magnificência dos grandes centros.
Trouxe à baila o exemplo de Uberaba, cujos impostos federais e estaduais, em 1958, somaram Cr$191.197.148,20, ao passo que à Prefeitura coube apenas CR$43.711.495,40. Por isso mesmo o problema de energia elétrica, de águas, de esgotos, para somente citar os mais urgentes e imprescindíveis, esperavam solução lá fora, em Belo Horizonte ou na Capital, através de empenhos políticos, para que recebamos de volta, sob a forma de munificências governamentais, o rico dinheiro que levam do pagador de impostos, que vive no município.
Sem autonomia econômica , acentuou o Prof. Santino Gomes de Matos, nada vale a celebrada autonomia política dos municípios.
Dos vínculos do municipalismo com o nacionalismo, afirmou o orador que a brasilidade construtiva, de ação viva e atuante, depende da tomada de posição de cada município, onde ainda pulsa forte e isenta a alma da terra, que já se perde no cosmopolitismo das capitais, com a ideia de pátria mais e mais enfraquecida e apagada, até mesmo em relação ao sentimento da língua vernácula, pois se torna elegância de má morte substituí-la pelo inglês, como nota de pretendida superioridade.
Terminando com um hino de fé ao Brasil e aos seus grandiosos destinos, foi aplaudido de pé e com com entusiasmo, quando recitou o seu credo nacionalista, de que aqui damos as palavras finais:
"Creio no Brasil Nacionalista, por que creio no homem brasileiro, creio no jovem brasileiro, não aquele pigmeu de visão errada e deformada de ilustre viajante, vencido pelas forças da nossa natureza, mas o gigante de energia e de ação, que constrói Brasília, que volta costas às molezas entorpecentes do litoral, e se atira à integração da hinterlândia, aos aspectos de civilização do país, com passos largos de conquista a vencer o tempo, abrindo os caminhos do futuro, numa antecipação magnífica de prosperidades e de grandezas."
