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DOMINGO À TARDE – Santino Gomes de Matos

  • Maria Isabel Gomes de Matos
  • 12 de jul. de 2022
  • 1 min de leitura

Atualizado: 25 de jan. de 2024

Domingo à tarde, todos os misticismos descem para junto da gente.

Principalmente se a neblina envolve o arvoredo

e, pela rua, passa um carro músico de propagandas,

tocando valsas velhas e tristes.


Sente-se vontade de ir não sei para onde,

uma vontade que se pode crismar de saudade do céu.


Foi o que aconteceu comigo, nesta tarde de domingo.

As árvores enlutaram-se de asas de urubu,

estendidas a uma promessa de sol.

Os velocípedes das crianças não se atreveram a correr nos passeios.

A rua ficou silenciosa dentro do meu silêncio,

e a bruma nos acolchoou um ambiente de êxtase.


De repente, surgiu a música, com uma saudade antiga,

incapaz de precisar lugares ou pessoas.

Os sons formaram poças dentro de mim,

como águas paradas e foscas, que já nada refletem.


E eu me enchi de desejos esquisitos.

Tentações de dissolver-me todo na neblina

e nos gestos sibilinos das árvores.

Vontade de ainda ser criança, ser menino,

para acreditar que um rei generoso passaria pela minha porta,

veria a minha tristeza

e me daria um tesouro fabuloso,

nunca sonhado por ninguém no mundo.

Do livro Vozes Íntimas

©2023 – Todos os direitos reservados. Permitida a divulgação, desde que citada a autoria.

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