E JESUS ABENÇOOU A MULTIDÃO – Santino Gomes de Matos
- Maria Isabel Gomes de Matos
- 11 de out. de 2022
- 1 min de leitura
Atualizado: 26 de jan. de 2024
Veio do fundo de um século de renovações
esse gesto alto e divino, que se imobilizou no espaço.
E – branco lírio moribundo –
a mão de luz que o traçou
desfaleceu no triste desalento
dos sacrifícios inúteis.
O gesto era de paz, de amor, de misericórdias,
e visava ao milagre brando das brandas compreensões.
Vinha perfumado de todas as crenças inocentes,
das festas aurorais de uns olhos de criança,
da noite inconsolável em que se apaga
o último sonho de um coração octogenário.
Trazia a impressão extasiante de um sol novo
e a resignação mística dos crepúsculos repousantes,
como um seio da paz.
Trazia um gosto estranho de flor de martírio,
de lágrimas purificadas,
de sufocações, de limitações heroicas,
unindo a natureza da carne à natureza do espírito,
para um só e único movimento
da mesma força imortal.
O gesto de cordura e de compassividade sem termo
vinha acordar, em flores e frutos,
as sementeiras adormecidas da bondade,
a fim de que todos se contentassem com o contentamento das coisas simples,
que gera os desejos mansos e as mansas misericórdias.
Dentro do gesto luminoso de bênção e de graça,
que se gelou no espaço,
inutilmente,
emoldurando o lírio branco de uma mão palidamente desalentada,
cabiam todos os gestos compassivos,
que não vieram então,
que não vêm agora e no virão jamais,
num mundo que triunfa com Caim
a miséria de sua destinação fratricida.
Do livro Procissão de Encontros
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