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INSÔNIA – Santino Gomes de Matos

  • Maria Isabel Gomes de Matos
  • 11 de out. de 2022
  • 1 min de leitura

Atualizado: 26 de jan. de 2024

(Na Grande Guerra)


Foi, sem dúvida, porque o rei Herodes

recomeçou a matança dos inocentes.

E um grande, um imenso clamor de mães

subiu da terra para a noite sem ecos.


Foi, sem dúvida, porque todos os astros,

no insondável dos universos,

parecem estar derramando sobre mim

o mesmo sangue grosso da humanidade

imolada no mais pavoroso dos sacrifícios.


Foi, sem dúvida, por causa das vagas rolantes

dos sofrimentos anônimos,

que nos envolvem e nos sufocam,

que nos põem no peito a angústia imensa de todos os afogados,

para um grito de terror que abalasse o mundo:

– grito que fica preso em nosso anseio,

que fica mudo, em nossos lábios,

no tormento intraduzível dos silêncios trágicos

de milhões de bocas e de milhões de almas!


Foi, sem dúvida, pelo pulso de febre

que lateja dentro da noite equatorial,

marcando um alto grau de delírio em todo o mundo,

uma sentença de loucura a todos os homens,

que se sangram na própria tragédia,

com uma vocação de sadismo desesperado.


Foi por tudo isso

que os meus olhos se recusaram a fechar-se

e o meu espírito andou boiando na confusão das trevas

com que o verme humano tenta apagar, num borrão,

a obra de beleza do criador da Harmonia e da Luz.


Insônia!


Do livro Procissão de Encontros

©2023 – Todos os direitos reservados. Permitida a divulgação, desde que citada a autoria.

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