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MANEIRO PAU... MANEIRO PAU... Santino Gomes de Matos

  • Maria Isabel Gomes de Matos
  • 11 de jul. de 2022
  • 1 min de leitura

Atualizado: 8 de out. de 2022

A roda de jogadores se estendia imensa, aos

meus olhos de criança. Cada parceiro manejava um pau

curto e roliço, batendo para a direita, noutro pau, e já aparando,

na esquerda, a paulada que vinha.

Agilidade, destreza, num ritmo perfeito, igual, seguro,

vibrando as pancadas e as cantigas, através das ondas de luz do plenilúnio.

E a roda rodava:

“Maneiro pau, maneiro pau...”

Meneio o pau e não maneiro pau – corrigiria mais tarde o mestre de português.

Mas o estribilho dizia – maneiro pau – e as cantigas daqueles homens simples e valentes eram mais ou menos assim:


Maneiro pau, maneiro pau...

Tua vida anda falada

por causa de um bem querer.

Maneiro pau, maneiro pau...

És moreninha “marvada”

o espinho do meu sofrer.


Maneiro pau, maneiro pau...

Da lua desce meu sonho

e à lua meu sonho “assobe”

Maneiro pau, maneiro pau...

Quer trovar e componho

um verso pra lá de “pobe”...


Maneiro pau, maneiro pau...

Se eu fosse rei de ‘baraio”,

a dama de ouros cortava.

Maneiro pau, maneiro pau...

E sem luta, sem “trabaio”,

pra mim a dama levava.


Maneiro pau, maneiro pau...

A noite toda sustento

o jogo, com valentia.

Maneiro pau, maneiro pau...

Me bato com cem, “duzento”,

só temo o olhar de Maria.


Maneiro pau, maneiro pau...

Essa lua de alfenim,

que se escondeu no negrume.

Maneiro pau, maneiro pau...

viu teu rosto de jasmim

e se matou de ciúme.


Maneiro pau, maneiro pau...

Já quebra a barra do dia,

assobia o gaturamo.

Maneiro pau, maneiro pau...

Saiba o sol, também, Maria,

que a ti somente é que eu amo.


Do livro Procissão de Encontros

©2022 – Todos os direitos reservados. Permitida a divulgação, desde que citada a autoria.



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