NA MANHÃ CLARA – Santino Gomes de Matos
- Maria Isabel Gomes de Matos
- 14 de out. de 2022
- 1 min de leitura
Atualizado: 26 de jan. de 2024
O apito cresceu alto,
como uma seta fina projetada,
que varasse o forro de veludo da manhã.
Espatifou-se.
Os ecos transformaram-no em cacarias de som.
Apesar disso, ficou gritando, dentro de mim,
o seu grito ilimitado de distâncias.
Quando foi? Quando será?
A indecisão me tolhe e me equilibra,
entre o passado e o futuro.
Sei que vim, sei que sigo, que caminho,
às vezes sem vontade,
como um boneco desengonçado e feio,
que obedece mal aos cordéis,
num palco fantástico de autômatos.
O apito cresceu tanto,
que há de ter ferido os astros.
E eu subi com ele, numa vertigem.
Fiz dele o grito imenso que anda preso na minha garganta.
Para o passado? Para o futuro?
Não sei dizê-lo.
Sei que o apito carregou um mundo de vozes
incompreensíveis de distâncias,
de coisas impalpáveis, invisíveis.
Foram as vozes que de mim se elevaram e nele se fundiram.
Mas os ecos perversos as devolveram
para as noites dos meus silêncios.
Do livro Vozes Íntimas
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