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OLHOS DE REVELAÇÃO – Santino Gomes de Matos

  • Maria Isabel Gomes de Matos
  • 5 de out. de 2022
  • 1 min de leitura

Atualizado: 7 de out. de 2022


Faz tanto tempo já!

Há distâncias aflitas de permeio.

Há uma vida de íngremes caminhos,

há um destino aberto como um veio

de águas salobras, de salobros vinhos,

que enchem diariamente a minha taça

para o instante que vem, para o instante que passa!


Faz tanto tempo já!

Eu era então o tímido menino

que numa noite clara de São João

procurava saber o meu destino

na água encantada da revelação.


A lua na corrente se banhava.

Sobre a água de mistério, debruçado,

nem sei dos sonhos que eu ali sonhava,

num transporte de fé, extasiado,

vendo a sucessão completa dos meus dias,

iluminados de um sol de prata,

remansados de paz e de harmonias.


Faz tanto tempo já!

E o que me veio pela vida fora,

no conta-gotas da desilusão,

assemelhou-me à árvore que enflora

e uma a uma vê cair, sem viço

todas as flores mortas pelo chão.


Carreiro de Santiago do meu sonho,

que céu possui agora o teu fulgor?

Sob os meus passos, onde quer que os ponho,

Só vejo o rebentar de urzes e abrolhos,

de espinhos vivos para a minha dor.


Mas, a ingenuidade dos poetas!


Hoje é o lago tranquilo dos teus olhos,

que guarda o encanto da revelação.

São eles que anunciam, como dois profetas,

um novo sol nesse horizonte morto,

onde auroras passaram de fugida

e a treva esconde o derradeiro porto.


É debalde, porém, tem sido em vão

que eu busco a mesma luz de graça e vida

nas profundezas do teu coração.

Do livro Procissão de Encontros

©2022 – Todos os direitos reservados. Permitida a divulgação, desde que citada a autoria.

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