ORAÇÃO – Santino Gomes de Matos
- Maria Isabel Gomes de Matos
- 14 de out. de 2022
- 1 min de leitura
Atualizado: 27 de nov. de 2023
O musgo que amacia e a fonte que refresca,
como faltam à rocha nua erguida,
faltam à minha vida!
Senhor!
Dai-me a dureza de rochedos nus.
A inconsciência estúpida e brutal
do que não sente o bem, do que não sente o mal,
e, intacta, devolve a própria luz.
Onde a voz de acalanto do meu berço?
Onde o ninho de paz dulcificado
para vocação de amor que não exerço,
num sonho que hei de ver sempre adiado?
Senhor!
dai-me a alta surdez dos monolitos.
Que eu não me escute nunca e não escute o mundo,
que eu seja mouco a imprecações e gritos
que a vida ferem fundo,
que a vida ferem fundo!
Pois logo a mim, que quase nada posso,
encheis-me o coração de piedade,
encheis-me a alma da unção do padre-nosso...
Concedei-me, Senhor, a opacidade
da rocha nua para o céu erguida,
sem musgos e sem sombra, sem frescor,
tal qual como quisestes minha vida,
Senhor!
Do livro Vozes Íntimas
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