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QUANDO VIER A GRANDE NOITE – Santino Gomes de Matos

  • Maria Isabel Gomes de Matos
  • 8 de jul. de 2022
  • 1 min de leitura

Atualizado: 25 de jan. de 2024

Quando parti,

não houve mãos para me dar adeuses.

Tudo era morto e indiferente.

Só eu trazia uma alma acesa,

levando-a para o Mundo

com pedaços de céu, de várzeas, de horizontes,

na caricatura feia da minha terra pobre.


Eu vim de olhos enxutos e outros olhos não choraram,

lavando a minha ausência.

Toda gente sabia que eu pertencia à Vida,

que eu já nascera engajado do Destino,

para distâncias longas,

secas de ternuras,

para o abraço de ninguém.


Toda gente também sabe,

quando chego em toda parte, em qualquer parte,

que eu vim para não ficar.

Que eu sou apenas uma figura neutra de passageiro,

pelas terras alheias,

sem disputar a ninguém o seu lugar ao sol.


Tenho partido tanto, tão só, tão deslembrado,

sem olhos de saudade, sem mãos de adeuses,

que não hei de estranhar a derradeira estrada,

quando a grande noite amortalhar a minha fronte

para a última, definitiva e verdadeira viagem do meu destino.


Do livro Procissão de Encontros

©2023 – Todos os direitos reservados. Permitida a divulgação desde que citada a autoria.

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