DESENCONTRO COM A POESIA – Santino Gomes de Matos
- Maria Isabel Gomes de Matos
- 5 de out. de 2022
- 1 min de leitura
Atualizado: 28 de abr.
Vais perder-me e eu vou também perder-te.
Na túnica do Tempo se recorta
a mortalha das nossas ilusões.
E há gelo, em meu olhar, agora, ao ver-te,
e a minha imagem é já imagem morta,
nas tuas devoções.
Apagam-se na curva do caminho
os sinaleiros todos,
que nos marcavam rumo ao Ideal.
E a minha estrada se desfaz em lodos
e em tua alma calou-se o passarinho
que a enchia de um riso matinal.
Por quê? Nem sei, nem sabes, e aqui vamos,
como quem vai no fim de uma jornada.
E o mundo há de saber que não choramos,
que não dissemos nada
quando a noite caiu para nossa alma,
serenamente,
tragicamente calma.
Era tão lindo o meu país de sonho
e havia tanto sonho em teu olhar!
Não é bem que o deseje, mas suponho
que aquele gesto morto há de ressuscitar
das nossas mãos unidas
para um grande destino em nossas vidas,
para um Destino – Mar!
Nunca mais! Vê o que fizeram do meu céu!
A culpa, com certeza, foi da lua,
que num desvio negro se perdeu.
Foi da nuvem, que no alto as escondeu
a minha estrela e a tua.
E o céu há de vestir luto fechado,
mudo de treva, sem nenhum sentido.
E nunca mais direi ao teu ouvido
as grandes crueldades do meu fado,
e nunca mais – mimosa flor pendida –
hás de mentir ao meu olhar magoado
as juras de tua alma arrependida.
Do livro Procissão de Encontros
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