SUGESTÃO LÍRICA – Santino Gomes de Matos
- Maria Isabel Gomes de Matos
- 11 de out. de 2022
- 1 min de leitura
Atualizado: 23 de abr.
Entra-me à janela
a sugestão lírica da noite lactescente.
Reconciliação de harmonias
entre o céu e a terra.
Adoça-se um cetim de ternura do luar enamorado
sobre a alma antiga das coisas.
Romantismo.
A precipitação prática do século se relenta,
sem aviões a jato,
sem discos voadores
sem foguetes interplanetários.
Os nervos esticados da humanidade,
diante do alarme pânico da bomba de hidrogênio,
recebe uma ducha mística,
no favor emoliente do luar.
Ressurge o velho mundo do sonho,
do êxtase tranquilo,
de quando ainda não se rompera o equilíbrio da mediocridade,
para a aventura espantosa do gênio:
que desintegra o átomo,
que enrola as distâncias em novelos de poucas horas,
que mexe com as barbas dos tritões, no fundo dos mares,
e projeta novas estrelas, novos mundos, nos espaços devassados,
em réplica atrevida ao Deus Criador.
O homem voltou a ser um mesquinho bicho da terra,
com amor simples às coisas simples,
reduzido a uns olhos de poeta,
que se surpreendem a ver novamente Ofélia
carregada nas ondas fluidas do luar.
Passa a alma sonambularemos de uma virgem morta,
por entre as cortinas de gazes translúcidas.
E os vapores não se condensam em nuvens,
para não ser,
para não se afirmar,
para apenas seguirem em vaguezas líricas,
a perdição da noite lactescente.
Do livro Céu Deposto
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