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TRISTEZA – Santino Gomes de Matos

  • Maria Isabel Gomes de Matos
  • 11 de out. de 2022
  • 1 min de leitura

Atualizado: 28 de abr.

Lá fora, as marteladas da goteira. Dias de tédio.

A lua, à noite, pelo céu brumoso,

é um poema tristemente doloroso,

que dentro da alma oculto, não se escreve,

nem chorado se chora, como o deve.

Em tudo o mesmo acento de tristeza,

ao extático recolho de quem reza.

Asas sem rumo, deslizando tardas,

vestidas de neblina, em névoas pardas.

E as árvores, coitadas, assim quietas,

nesse anojo feral das asas pretas:

urubus poetas, cismarentos vagos,

feiticeiros talvez, talvez bons magos,

que espiam para o fundo do destino,

sonhando com gorduras de intestino.

O sol passeia incógnito, por hoje:

privou-nos da visita o Sr. Doge.

E as florinhas tiritam, arrepiadas,

dentro do céu da cor das madrugadas,

mas sem hinos, sem festas no arvoredo:

diz a Terra ao amante algum segredo.

Silêncio. Tudo cala. Não palpita

uma folha sequer que a brisa agita.

Natureza espasmódica e dormente

a padecer daquilo que não sente.

As águas empoçadas são sem brilho,

e as gotas, como contas de vidrilho,

foscas, terrosas, que chorasse a chuva

para o triste colar de triste viúva.

.....................................................

Ainda chove. Lama, tédio, espline...

E essa tristeza que não se define!



Do livro Vozes Íntimas

©2023 – Todos os direitos reservados. Permitida a divulgação, desde que citada a autoria.


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